quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Uma América que não é Latina.

Publico abaixo, trecho do texto originalmente postado no site Observatório da Imprensa.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/uma_america_que_nao_e_latina
Há uma grande confusão e incoerência nas nomenclaturas que vigoram geo-politicamente as regiões do continente americano. Leiamos o texto:
Entrevistado pelo ator Lázaro Ramos no programa Espelho (edição de 23/10), do Canal Brasil, o escritor e ativista cubano Carlos Moore, exilado de seu país desde 1963, chamou a atenção para o sem-sentido de se usar a expressão “América Latina”.

A maioria dos habitantes do continente ao sul do Rio Grande não é “latina”: é mestiça, índia, negra.

Em vista disso, parece melhor usar as denominações de base cartográfica: Américas do Sul e Central, Caribe e América do Norte. Dir-se-á que assim o México fica ligado aos Estados Unidos. Fica. Mas alguém tem dúvida de que os destinos do México e dos Estados Unidos estão inextricavelmente ligados?

A designação “América Latina” foi cunhada para demarcar tudo que não é anglo-saxão, baseada na supremacia de línguas derivadas do latim.

Mais recentemente, serve para tomar distância, nem que seja retoricamente, dos Estados Unidos (e do Canadá; mas o Quebec não seria “latino”?).

Há nisso duas patentes ironias. A primeira é que o qualificativo “latino” remete ao colonizador ibérico e francês. A segunda é que nos Estados Unidos se passou a usar exatamente o mesmo termo para designar todos os imigrantes provenientes do sul do Rio Grande. Os “latinos” formam um grande caldeirão que abarca falantes de centenas de línguas, e cores de pele que vão do negro haitiano ao branquíssimo descendente de alemães, poloneses etc.

Mas a mídia não deixará de usar “América Latina”. Principalmente a mídia “latino-americana”.


A discussão obviamente não se encerra aqui, entretanto é importantíssimo que tenhamos um posicionamento crítico e esclarecido sobre determinadas questões como essa, pois por trás de um prêmio como Grammy Latino ou Oscar de filme estrangeiro, residem questões ideológicas que cristalizam o nosso pensar sobre nós mesmos e sobre o outro que no caso dos estadunidenses tendem quase sempre a ter uma posição de superioridade perante todos os outros. Aliás, aí está o problema, nós somos sempre OS OUTROS.

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