sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sírio Possenti discute o preconceito linguístico.



Um dos debates mais quentes do ano foi sobre um livro didático acusado de ensinar regras de português erradas (na verdade, ninguém leu o livro; foram lidas algumas frases soltas de uma das páginas de um dos capítulos). A acusação mereceu diversas manifestações de especialistas, que tentaram mostrar que uma língua é um fenômeno mais complexo do que parece ser quando apresentada apenas em termos prescritivos.
Um dos pequenos avanços da mídia (que, no quesito, representa grande parte da sociedade instruída) foi reconhecer que as teorias e as pesquisas linguísticas têm legitimidade. Mas acha que devem restringir-se à universidade. Para um linguista, tal posição equivale a sustentar que só se deve ensinar reprodução na universidade. Até o fim do colegial, deve-se ensinar aos alunos que as crianças são trazidas pela cegonha.
Um dos itens do debate foi o preconceito linguístico; questionou-se sua existência. Chegou-se a afirmar que a “defesa” de traços da fala popular produziria como um dos efeitos um preconceito às avessas, contra os que falam corretamente. Foi uma das leituras mais desastrosas que a mídia conseguiu fazer da questão.
O que seria o tal preconceito linguístico? Ele existe? Se sim, qual a sua natureza? Se deve ser combatido, como todos os preconceitos, quais deveriam ser as armas de combate?
Talvez seja bom começar por uma definição de preconceito. A do Dicionário Houaiss é bastante esclarecedora. Segundo essa fonte, preconceito é “qualquer opinião ou sentimento, quer favorável quer desfavorável, concebido sem exame crítico”, o que em seguida é mais bem especificado: “ideia, opinião ou sentimento desfavorável formado a priori, sem maior conhecimento, ponderação ou razão”.
Na segunda acepção, o preconceito é definido como “atitude, sentimento ou parecer insensato, especialmente de natureza hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância”. Os preconceitos que se tornaram mais conhecidos e cujo combate é mais aceito são o racial e o de gênero.
A expressão “preconceito linguístico” é mais ou menos corrente entre leitores de sociolinguística, disciplina que estuda o fenômeno da variação linguística, os fatores que a condicionam e as atitudes da sociedade em relação às variedades.
Fatos incontornáveis
A qualificação de certas atitudes como preconceito linguístico se baseia em diversas teses. A principal, mãe de todos os desdobramentos, é que haveria línguas primitivas, cujos falantes seriam incapazes de realizar determinadas operações mentais (faltaria clareza ou precisão), seriam incapazes de proceder a certas generalizações (suas línguas não teriam termos abstratos), seu conhecimento do mundo seria precário (expressariam seu ‘conhecimento’ em classificações confusas) etc. Enfim, certos povos (sempre os outros) seriam inferiores, e uma das razões, ou um dos reflexos, seria sua língua.
A tese de que há línguas primitivas tem uma descendência clara no domínio da variação: dialetos populares teriam defeitos análogos aos das línguas primitivas. Só a comparação é outra: no primeiro caso, com as línguas ditas civilizadas; no segundo, com a norma culta.
Já que o preconceito consiste em considerar alguém ou algum grupo inferior ou incapaz (mulheres para os homens, negros ou indígenas para os brancos etc.), a analogia em relação à diversidade das línguas se aplica quase automaticamente: os diferentes são portadores de defeitos.
Ora, qualquer tentativa de provar que tais línguas são primitivas esbarra em fatos incontornáveis. Vejamos alguns fatos que contradizem os principais preconceitos:
(a) sobre a propalada ausência de termos abstratos em línguas de “selvagens”, Lévi-Strauss apresenta diversos contra-exemplos, dentre os quais um do chinuque, língua em que traduziria “o homem mau matou a pobre criança” por “a maldade do homem matou a pobreza da criança”;
(b) sobre línguas “evoluídas” deverem ser claras (o que implicaria que fossem flexionais, como o latim e o grego, e, em grau menor, as línguas românicas), basta considerar o caso do inglês, que praticamente não tem flexões; you are pode significar “você é”, “tu és”, “vós sois”, “vocês são”, “o senhor é”, “os senhores são”;
(c) se um dialeto fosse obscuro por ter poucas flexões (“os menino tá muito sujo”), teríamos que dizer que o inglês é uma língua obscura, de difícil compreensão. Ora, ao contrário, ela em geral é avaliada como ótima exatamente para a ciência, que demandaria uma linguagem clara e unívoca. Uma oração como a do exemplo é absolutamente clara (espero sinceramente que todos os leitores a compreendam!). Apenas foram eliminadas, nessa gramática, todas as marcações de plural redundantes (como no inglês, exceto pela palavra que recebe a marca);
(d) o mesmo dialeto que é considerado errado ou precário por eliminar redundâncias também é considerado errado ou precário quando introduz redundâncias como “sair para fora” ou “entrar para dentro”, “subir para cima” e “descer para baixo”; são, de novo, construções análogas às do inglês, que ninguém estranha ou critica;
(e) línguas primitivas teriam poucas palavras (!) e elas teriam muitos sentidos, que dependeriam do contexto. Mas esta é uma propriedade de qualquer léxico. Basta espiar entradas como “ponto” em um dicionário de português e pack em um de inglês.
Equívoco secular
Voltemos ao Houaiss, que assim define preconceito linguístico: “Qualquer crença sem fundamento científico acerca das línguas e de seus usuários, como, p. ex., a crença de que existem línguas desenvolvidas e línguas primitivas, ou de que só a língua das classes cultas possui gramática, ou de que os povos indígenas da África e da América não possuem línguas, apenas dialetos.”
No fundo, o preconceito linguístico é um preconceito social. É uma discriminação sem fundamento que atinge falantes inferiorizados por alguma razão e por algum fato histórico. Nós o compreenderíamos melhor se nos déssemos conta de que “falar bem” é uma regra da mesma natureza das regras de etiqueta, das regras de comportamento social. Os que dizemos que falam errado são apenas cidadãos que seguem outras regras e que não têm poder para ditar quais são as elegantes.
Isso não significa dizer que a norma culta não é relevante ou que não precisa ser ensinada. Significa apenas que as normas não cultas não são o que sempre se disse delas. E elas mereceriam não ser objeto de preconceito.
A leitura de um ou dois capítulos de qualquer manual de linguística poderia fazer com que todos se convencessem de que estivemos equivocados durante séculos em relação a conceitos como “falar errado”. Para combater esse preconceito, basta um pouco de informação.
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[Sírio Possenti é professor do Departamento de Linguística da Universidade Estadual de Campinas

Por um amadurecimento da discussão política no Pará.

Protestos devem se estender a outros políticos
A música de Nilson Chaves já dizia "os velhos de Brasília não podem ser eternos". Infelizmente, eles deixam seus filhos no poder, ou no mínimo, trabalham bastante para isso.
O ano de 2012 será marcado pela campanha eleitoral para os municípios em todo o Brasil. Como era de se esperar, políticos da região já começaram a "dar as caras" nos outdoors espalhados pelos municípios da região. Em Marabá não poderia ser diferente.  O prefeito do município de Ananindeua, Helder Barbalho, espalhou pela cidade alguns outdoors de boas festas e feliz ano novo. No entanto, um de seus outdoors foi pichado com um protesto (foto). Curiosamente, o verde e o amarelo da mensagem no outdoor fazem lembrar as cores da campanha do SIM pelo Estado de Carajás. A experiencia do plebiscito pode apontar para a possibilidade de um amadurecimento do povo dessa região em relação a escolha de candidatos para o próximo pleito. Vivemos em uma região rica em todos os aspectos, mas ao mesmo tempo, continuamos reféns de administrações públicas corruptas, candidatos de ocasião e a serviço de poucos. O protesto neste outdoor merece não só este registro, mas também deve ser estendido a todos os políticos que mantém a nossa população num estado de miséria. A hora é de cobrar do poder público municipal e dos magistrados do município transparência; e que Marabá não tenha mais um prefeito caçado 3 vezes num mesmo mandato. O protesto no outdoor além de legítimo, pode e deve ser lembrado no ano de eleição municipal.
 Mensagem com as cores do SIM é pichada com o vermelho do NÃO.
Vamos torcer para que as manifestações críticas e os protestos como esse em relação aos políticos da nossa região ganhem força ao longo do ano eleitoral, aumentando assim as chances de termos representantes políticos de verdade e não o filho do Beltrano e amigo do Siclano como candidatos.




terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Os "Robin Hoods" do ciberespaço.

O grupo de piratas do cyberespaço Anonymous voltou a atacar no fim de semana do Natal
 O grupo de hackers Anonymous atacou, nesta segunda-feira, a base de dados da agência de segurança norte-americana Stratfor e roubou os dados de, pelo menos, 4 mil cartões de crédito de grandes empresas mundiais e da Defesa dos EUA. Em seguida, numa fração de segundos, passaram a distribuir o saldo das contas milionárias a orfanatos, asilos e casas de saúde ao redor do mundo.
As doações a instituições de caridade foram acompanhadas da frase “Obrigado! Agência de Segurança Interna”.
Os piratas do cyberespaço alegaram que um dos motivos pelos quais conseguiram roubar dados da Stratfor deve-se ao fato da não encriptação (conversão ou transmissão de dados em código) da informação, o que será um grande embaraço para uma empresa que fornece análises políticas, econômicas e militares para clientes que precisam reduzir os riscos de segurança.
Entre os clientes da empresa, que fornece serviços de informação de defesa, lobby político e econômico, encontram-se algumas das 500 organizações mais lucrativas do mundo listadas na revista Fortune, como a BNP Paribas, Wester Union, American Express ou Visa, entre outras, e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
Os Anonymous anunciaram o ataque através do Twitter e justificaram a ação como uma “doação de Natal”. O grupo divulgou também, no Twitter, a lista das empresas clientes da Stratfor juntamente com os respetivos dados dos cartões de crédito, como o Departamento da Defesa norte-americano, o Exército, a Força Aérea e empresas do ramo tecnológico como a Apple ou a Microsoft.
Segundo diário norte-americano New York Times, os hackers mostraram ainda imagens de recibos de transferências feitas a partir de alguns desses cartões de crédito para instituições de caridade, acompanhadas da frase de agradecimento: “Obrigado! Agência de Segurança Interna”.
Um dos recibos divulgados estava em nome da Cruz Vermelha Norte-americana e tinha o nome de um ex-responsável do Departamento Governamental Bancário do Texas, Allen Barr. Citado pelo mesmo jornal norte-americano, Barr afirmou que foram debitados US$ 700 do seu cartão a favor de várias instituições de solidariedade.
– Foram todas instituições de caridade, Cruz Vermelha, CARE, Save The Children. Por isso, quando a empresa do cartão de crédito contactou a minha mulher ela não tinha a certeza se tinha sido eu a fazer a doação – explicou.
Fred Burton,vice-presidente da Stratfor, cujo site se encontra em manutenção, disse à agência norte-americana de notícias Associated Press que a empresa apresentou queixa às autoridades e que trabalham em conjunto na investigação.
Os Anonymous cumpriram, desta forma, a ameaça divulgada há algumas semanas de realizar um ataque a sites de grandes instituições durante o fim-de-semana de Natal. Em um e-mail aos clientes, a que a AP teve acesso, a Stratfor afirma que suspendeu o correio eletrônico e os seus servidores.
Fonte: http://correiodobrasil.com.br/anonymous-conseguem-dados-de-cartoes-de-credito-e-fazem-doacoes/347715/

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Capitalism survives on wars.


This week, the last convoy of  US army and military finally left Iraq. After a decade of  a useless war, US troops leave Iraq with no glory or honor as they try to show in their movies.  Barack Obama recently declared that US troops leave that country much better than it was. How can he expect us to believe in such a lie? After 10 years of bombing, killing and destruction in the name of US governments profits, the scenario could not be worst.
US troops leaving Iraq - Dec 2011.
That's the logic of capitalism, it survives from "invented"wars in order to make more money and enlarge its profits. It actually needs to have enemies. Peace does not bring money. Competition, fight and wars does.
The United States government policy has got a new target: IRAN. It's only a matter of time until we start seeing american soldiers on their way to Iran in order to fight the politics of Mahmoud Ahmadinejad.
According to Celso Furtado the world has been living under a "fundamentalist market", a constant need to invest in conflicts which nay be convinient profitable. It's really important to remark though, there's no good or bad guys in this context, but who the 'smarters' are. Just like the old western movies, who will pull the trigger first? That's capitalism. Being on war is not an option, it is mandatory.
Iran, US next target?
After all, US may also be seen as a victim of their own politics which has sent to death thousands of young american soldiers over the years. The numbers are everywhere to be seen. In Brazil, we are told americans go to war for patriotism, a single bullshit for naive people.
All over the world, peoples are demonized by US ideology
The United States government seems to follow faithfully his policy of being responsible for the real terror overseas in the name of oil and any other action which brings profits to their "pockets".

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Things We Forget: #775

Nice blog I found while doing random navigation. It consists on leaving messages written o paper in public places.

Things We Forget: #775: tanjong pagar, singapore

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Os Mediadores da Exploração e Manipulação de Classes

Na foto, Angélica (empregada doméstica), William Bonner (carteiro), Ana Maria (cozinheira), Xuxa (babá), Renato Aragão (eletricista), Fausto Silva (garçom), Luciano Huck (taxista), Serginho Groisman (sorveteiro) e Dedé Santana (eletricista).

A chamada de fim de ano criada pela Rede Globo distorce a realidade, inverte os papéis, manipula os telespectadores com uma grotesca ilusão. Uma subversão da realidade. O staff da emissora usualmente classificado como "elenco de artistas", são funcionários da TV, muitos dos quais nem moram no Brasil. Alguns  se tornaram empresários riquíssimos e que não tem contato algum com a realidade vivida pelos brasileiros. Apesar disso, sabemos seus nomes muito bem, não é mesmo?! Claro! Eles estão "dentro" de nossas casas todos os dias. Cria-se assim a ilusão de que nós os conhecemos. Pura ilusão. A idéia é a seguinte: olha como gente rica é gente boa. Gente que nem a gente. É natal! 
É lamentável que a identificação do nosso povo com essa gente da TV seja tão grande, resultado de décadas de uma domesticação televisiva que se mantém há muitos anos.
O cantor Roberto Carlos poderia muito bem aparecer de Papai Noel, já que só dá as caras na mídia, uma vez por ano e pra cantar sempre as mesmas músicas nessa mesma época há mais de 30 anos. Será que estamos condenados a essa fábrica genérica de Hollywwod reproduzindo no Brasil,  o american dream com "a nossa cara"?! Por que não podemos ter uma TV com gente de verdade?
Gente que nem a gente mesmo, não esses personagens de uma beleza "plástica" e vazia. Me permitam aqui parodiar um pouco o jingle global dizendo que só assim, poderemos verdadeiramente cantar que os nossos sonhos serão verdade. Aliás o nosso futuro ainda não começou por causa dessa gente também.


Roberto Carlos, assim como Papai Noel, só aparece no Natal. Por isso,também nem parece gente de verdade.

Não deixo aqui o link para o vídeo porque basta ligar a TV pra assistir a vinheta da Globo. Deixo sim, o texto do professor Eustáquio, também poeta e escritor, que me trouxe a reflexão sobre o tema. Nele, o professor destaca 3 pontos:  Grotesca Ilusão, Homenagem de Fim de Ano e Mediadores da Exploração de Classe.

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A carnavalização da cultura popular

No livro A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais (1965), o pensador russo Mikhail Bakhtin (1895-1975) desenvolveu o conceito de carnavalização e o identificou intrinsecamente à cultura popular, pois esta, ao valorizar a dimensão corporal da vida, tende a ridicularizar, parodiar e subverter a seriedade, os rituais fechados e as transcendentais pompas legalistas dos poderes instituídos.
Embora analise a carnavalização na literatura do escritor renascentista francês François Rabelais (1494-1553), precisamente tendo em vista a obra cômicaGargantua e Pantagruel (1552), penso que os argumentos de Bakhtin podem ser ampliados de tal sorte a admitirmos que existe carnavalização para valer quando uma manifestação cultural – e política – debocha de toda e qualquer hierarquia, demonstrando, via riso, informalidade, trapaça e valorização do cotidiano, o quanto os lugares de poder, quaisquer que sejam, são ridículos e farsescos.
A carnavalização, sob esse ponto de vista, é uma questão de povo, pois é o povo que, não ocupando poder institucional algum, ridiculariza todos os poderes existentes, seja imitando-os de forma caricatural, seja ridicularizando-os, seja simplesmente, com muito artifício e avacalhação, divertindo-se, sem lei e sei moral, através da festa carnavalesca de um mundo sem poderes, com seus falsos legalismos e rituais hierárquicos de exclusão, uma vez que, para ficar no óbvio, a força da lei só vale, em qualquer época histórica, para quem não detém, de origem, o poder soberano.
Uma grotesca ilusão
Penso, entretanto, que o conceito de carnavalização de Bakhtin tal como exposto acima foi plenamente válido até o advento da civilização midiática (1945) e, portanto, não vale mais para a nossa atual época, neoliberal, pois hoje é o inverso do inverso que ocorre: as elites econômicas é que carnavalizam o povo, ora imitando ser mais povo que o povo, ora inventando, como ocorre com a cultura de massa, uma civilização, a nossa, em que todos gostamos de tudo que o povo gosta, independente de nossa classe social e desde que, obviamente, não deixemos de ser proprietários das posses que temos, pois as diferenças econômicas, é o que dizemos para nós mesmos, são necessárias, desejáveis e efetivamente desejadas.
De forma farsesca e ao mesmo tempo trágica, são, no atual presente histórico, as elites que se apropriam da chamada cultura popular e a carnavalizam, produzindo o efeito ilusório de que vivemos numa civilização de oportunidades iguais, uma vez que cultivamos os mesmos artistas midiáticos, os mesmos gêneros musicais, os mesmos filmes, os mesmos programas de auditório, assim como desejamos as mesmas reificadas mercadorias.
Sob esse ponto de vista, é possível dizer que, na atual pós-modernidade neoliberal, a própria ideia de comunismo é carnavalizada pelas elites econômicas, pois produzimos carnavalescamente uma civilização em que a hierarquia cultural foi rompida e, por isso mesmo, tal como a carnavalização de Bakhtin, vivemos com júbilo a grotesca ilusão de que somos corporalmente comuns, no que diz respeito a nossas ações e vivências culturais.
A homenagem de fim de ano
A cultura de massa, mais do que o lugar de rompimento entre o erudito e o popular, a alta e a baixa cultura, constitui, hoje, o massificado horizonte midiático a partir do qual as elites econômicas carnavalizam promiscuamente a cultura popular, destronando-a de si mesma e transformando-a em carnavalesco comunismo cultural pleno de hierarquias econômicas, produzindo a ilusão de ótica, por tabela, de que o rico é gente boa, pois é povo como a gente.
Vivemos na época do comunismo cultural do baixo-ventre, na qual todos desejamos sexualmente a todos, independente de classe social, etnia e, cada vez mais, de gênero, desde, é claro, que não nos misturemos economicamente e que nos mantenhamos em nossos hierárquicos lugares eternos: o pobre na favela e o rico em condomínios fechados, até porque o apoteótico altar da arquitetura da civilização do comunismo cultural do baixo-ventre afinal de contas é, via de regra, ocupado por famosas pessoas tão simples e informais como a gente e, ainda tal como a gente, são famosas pessoas que gostam precisamente da mesma música de Zé Camargo e Luciano que também gosto ou deveria gostar, se não quiser ser acusado de elitista e reacionário.
É nesse contexto que devemos analisar a lógica subjacente e ao mesmo tempo carnavalescamente escrachada da atual homenagem de fim de ano da TV Globo, com sua carnavalesca letra que assim começa: “Hoje é um novo dia...”, o dia em que Faustão se fantasia de garçom, Luciano Huck, por sua vez, de taxista; Ana Maria Braga, de empregada doméstica; William Bonner, de carteiro, a Xuxa, de babá e, por fim, a angelical Angélica de faxineira.
A homenagem global de fim de ano, dessa forma, carnavaliza e expande o comunismo cultural popular do baixo-ventre, invertendo, fantasiosamente, a hierarquia econômica: Faustão, que nem no Brasil mora, é um simples e popular garçom; Xuxa, que igualmente tem os Estados Unidos como primeira moradia hierárquica, é uma amorosa e cuidadosa babá popular de não menos fantasiadas criancinhas burguesas; William Bonner, exemplar carteiro que não deve ter participado da última greve da categoria, olha aí, não ganha como supúnhamos, a fortuna que recebe por ano, posto que vive do miserável salário que os carteiros recebem.
Mediadores da exploração de classe
Viva o comunismo cultural da cultura de massa! Nele e através dele todas as ilusões são possíveis, pois o novo dia já começou: sejamos os carteiros, o William Bonner; as babás, a Xuxa; os taxistas, o Luciano Huck; as empregadas domésticas, a Ana Maria Braga; os garçons, o Faustão e as faxineiras, a angelical Angélica.
Tenhamos, como primeira moradia hierárquica, tal como eles, nossa mansão em Miami, pois tal como a sequência da letra, as alegrias serão de todos, no fantasioso comunismo cultural da cultura de massa, desde que não subvertamos a hierarquia econômica, denunciando e destronando a apoteose dos escandalosos e corruptos salários e rendas publicitárias que esse povo global recebe, como aplicados medíocres funcionários mediadores de nossa domesticação generalizada, porque, nesse caso, um Faustão ou uma Xuxa ou uma Ana Maria Braga ou um William Bonner ou um Luciano Huck ou uma Angélica imediatamente retiraria a fantasia de explorado e vestiria sem dó e piedade a fantasia militar da repressão e criminalização do subversivo e intrinsecamente (porque real) carnavalesco povo.
“Cassetete neles!”, “Salvem-nos o golpe militar idealizado pela embaixada americana do Brasil”, diriam raivosos.
Aí sim, caso insistíssemos em nossa primavera árabe – ao estilo da potência insubmissa da carnavalização da apoteose midiática, protagonizada pelo povo brasileiro –, aí sim poderíamos, através de uma subversiva festa popular, dizer: “Hoje é um novo dia, de um novo tempo, porque sem realidade de explorados, pois sem opressores, logo sem Xuxa, Faustão, Luciano Huck, Angélica, Ana Maria Braga, William Bonner e outros medíocres mediadores da exploração de classe nacional e internacional.”
***
[Luís Eustáquio Soares é poeta, escritor, ensaísta e professor da Universidade Federal do Espírito Santo]

A Noção de Erro na Língua.

 
É super importante que pelo menos os estudantes da área de letras e professores consigam se libertar da visão tradicional e preconceituosa acerca dos fenômenos da linguagem. Não se pode admitir profissionais na área da linguagem reproduzindo o preconceito linguístico, que na verdade, é também um preconceito de classe. Abaixo, segue o texto do site Observatório da Imprensa.


A coisa é bem simples: é um fato elementar para as ciências da linguagem que a variação é uma característica inerente a qualquer língua. Não existe uma única língua no mundo sem variação linguística.
Num mesmo idioma, por exemplo, há regras diferentes para designar uma mesma construção ou palavra. Isso é fácil de observar. No dia-a-dia, encontram-se pessoas que dizem os peixe, os livro e dez real. A regra dessa “gramática” consiste em marcar com “s” apenas o primeiro elemento significativo, no caso o artigo e o numeral. Existe também outra gramática, essa mais famosa, conhecida como gramática normativa, que segue uma regra diferente daquela: marca com “s” todos os elementos da sequência – os livros, os peixes, dez reais. O interessante é que essas duas construções são regulares, ou seja, as duas seguem regras rigorosas, exatas.
A partir disso, a sociedade faz uma avaliação de cada uma dessas variedades, considerando uma errada e outra certa, uma feia e outra /bonita, uma que soa bem e outra que soa mal. Cria-se assim uma língua boa, bonita, elegante e que seria mais inteligível e exata do que outras variedades dela – pelo menos na cabeça das pessoas. O mito de que existe uma língua certa e outra errada começa aqui, em achar que o outro é quem fala errado, tomando como viés a sua própria fala. Isso porque as pessoas que falam qualquer língua acabam julgando que a diferença é um defeito. Ou um erro. O outro não sabe falar porque não fala igual a mim, pensamos.
Pode acontecer algo mais grave ainda: acabamos nos convencendo de que nós é que não sabemos falar quando falamos de forma um pouco diferente daqueles que são nossos “modelos de comportamento linguístico”. Daí ser possível ouvir algumas pessoas dizerem que não sabem falar sua língua materna. “Não sei falar português”, afirmam.
Bastava abrir o ouvido para constatar que só o fato dela falar, já demonstra que ela sabe falar.
Noções relativas
Boa parte dos brasileiros acha que não sabem falar português. Julgam sua fala errada. Já os que sabem (ou acham que sabem), creem que é errado alguém falar dez real ou menas. No entanto, sendo a língua uma realidade essencialmente variável, não há formas de falar
intrinsecamente erradas. A noção de certo e errado, no português, tem origem na sociedade, não na estrutura da língua. Numa língua, é certo o que a sociedade considera certo e errado o que a sociedade considera errado. E, claro, essa avaliação muda com o passar dos anos.
Pense bem: por que os livro é errado? Em inglês não é assim. The book sem o “s” no artigo? E o francês também não fala le livre no plural sem o “s”? “Mas isso é inglês e francês” dirão os sábios. Ok. Mas os livro é português. “Mas é errado”, rebaterão. Ora, mas por que é errado em português, se em inglês e em francês é certo? “Por que não é nossa língua”, dirão. Mas se os livro é falado em português, segue uma regra estrita e é empregado por milhões de falantes, por que é errado? “Porque é”, será a melhor reposta que os sábios conseguirão dar.
Pense bem novamente: quem disse que os livro é errado? Provavelmente foi sua professora de português. Ok, mas, onde ela viu isso? Provavelmente numa gramática normativa. Certo, mas onde esse gramático viu isso? Provavelmente em algum livro de algum escritor do romantismo pra cá. Para pegar alguns exemplos, poderíamos pegar Evanildo Bechara, que afirma na introdução de sua excelente gramática:
“Fundamentam-se as regras da Gramática Normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja a linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição porque nela é que se espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou” (p. 6).
Em outra ótima gramática, a de Celson Cunha e Lindley Cintra, encontramos também a “prova do crime”. Eles afirmam o seguinte:
“Trata-se de uma tentativa de descrição do português atual na sua forma culta, isto é, da língua como a têm utilizado os escritores portugueses, brasileiros e africanos do Romantismo pra cá” (p. xiv).
Perceba que o certo e o errado na língua vêm com os grandes escritores. Em tese, a gramática normativa se baseia num modo peculiar de atividade linguística (escrita) de um grupo seleto de cidadãos que fizeram uso de uma das variantes prestigiadas no que costumam ser chamadas de obras clássicas. Em outras palavras, a sociedade elege, às vezes de maneira arbitrária ou baseada no que ela convencionou chamar elegante, uma variante linguística, torna-a padrão e em seguida passa a estigmatizar todo e qualquer falante que não siga aquela variação.
Inversão histórica
Esse é o processo de inversão histórica entre língua e gramática normativa. Essa última foi escrita precisamente para descrever as manifestações linguísticas escritas que foram usadas espontaneamente pelos escritores dignos de admiração. Em tese, as gramáticas normativas são decorrência da língua, sendo subordinadas e dependentes dela. A concepção de que os falantes e escritores é que precisam da gramática é resultado da inversão de uma realidade histórica. É como se primeiro tivessem escrito uma gramática e só depois as pessoas passassem a usar a língua. E o ideal seria resgatar essa língua imaginária que foi codificada nos livros de gramática do passado, bem antes da fala.
O certo numa língua acoberta assim um conjunto de ideias imprecisas: uma língua ideal, baseada no suposto uso dos grandes escritores do passado, sendo por isso um modelo abstrato que não corresponde efetivamente a nenhum conjunto real das regras que governam a atividade linguística pelos falantes de carne e osso da atualidade. E o que não se enquadra nesse padrão escolhido seria tratado como “erro” ou, mais grave ainda, não é tido como português.
Assim, o certo e o errado na língua são noções relativas.
Infelizmente, convive-se com esta noção como se fosse um valor absoluto, portador de uma verdade inerente e imutável. Poucos percebem que as formas consideradas certas são as que pertencem à língua, ao dialeto ou à variedade das pessoas que detêm o poder econômico ou cultural. Um dos clichês dos estudos sociolinguísticos ilustra isso bem: o que importa não é o que se diz, mas quem diz o quê a quem. Isso acontece porque o que está sendo avaliado não é apenas a língua da pessoa, mas sim, a própria pessoa. As questões que envolvem a linguagem não são simplesmente linguísticas, são também ideológicas. Mas isso é assunto para uma outra oportunidade.
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[Bruno Ribeiro Nascimento é graduado em Comunicação Social, João Pessoa, PB]

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Lucio Flavio é Agredido em Belém (de novo).

O jornalista Lucio Flavio foi agredido mais uma vez neste domingo dia 11 em Belém na saída de um restaurante. É a segunda vez que isso ocorre. Lucio Flavio faz um jornalismo de vanguarda num país em que a voz da grande imprensa é sinônimo de corporativismo empresarial e não de expressão popular. Resultado: intolerância, corrupção e violência. 

TRUCULÊNCIA E LEI DA SELVA EM BELÉM.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/truculencia_e_lei_da_selva_em_belem
Os valores morais estão mesmo invertidos no Brasil. No domingo (11/12), um cidadão que emitiu notas fiscais frias para dar cobertura a uma fraude, praticada pelos donos do principal grupo de comunicação da Amazônia, O Liberal, afiliado à Rede Globo de Televisão, através da qual tiveram acesso a dinheiro público da Sudam, me ameaçou de agressão e tentou me intimidar.
Meu “crime” foi o de ter denunciado a fraude em meu Jornal Pessoal, que se transformou em denúncia do Ministério Público Federal, aceita pela justiça federal, mas arquivada em primeiro grau sob a alegação de que o crime prescreveu. O juiz responsável pela sentença, Antônio de Almeida Campelo, titular da 4ª vara criminal federal de Belém, tentou me impor sua censura, para que não pudesse mais escrever a respeito do processo. Como a ordem era ilegal, não a acatei. Cinco dias depois, diante da reação pública, o juiz voltou atrás e revogou a sua determinação. Mas o incidente de hoje mostra que as tentativas de me intimidar prosseguirão.
Eu saía do almoço em um restaurante no centro de Belém, às 15h15, quando um cidadão se aproximou de mim subitamente. Ele parecia ter esperado o momento em que fiquei só no caixa. Como se postou bem ao meu lado, o cumprimentei, mesmo sem identificá-lo de imediato. Ele reagiu de forma agressiva. Como minha saudação tinha sido um “Tudo bem?”, ele respondeu: “Vai ver o que fizeste contra mim no teu jornal”.
“O quê?”, disse eu. Ele se tornou mais agressivo ainda: “Da próxima vez eu vou te bater, tu vais ver”. Aí me dei contra de tratar-se de Rodrigo Chaves, dono da empresa, a Progec, que cedera as notas fiscais frias para os irmãos Romulo Maiorana Júnior e Ronaldo Maiorana, donos do projeto para implantar em Belém uma indústria de sucos regionais, no valor (atualizado) de R$ 7 milhões, projeto esse aprovado pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, em 1995.
Observei que o cidadão estava com um copo de vidro cheio de refrigerante e que o apertava com força. Deixando o salão do restaurante com o copo, tornava-se evidente que, com seu tom agressivo, planejava usá-lo contra mim. Mantive-me calmo, sem reagir. Paguei e saía, quando ele começou a gritar, me chamando de palhaço. Continuei seguindo e fui até a seccional da polícia civil, onde apresentei queixa contra a ameaça de agressão física. O procedimento deverá ser instaurado na segunda-feira (12/12).
Outro delito
A primeira reportagem do Jornal Pessoal sobre a fraude praticada pelos irmãos Maiorana saiu em maio de 2002, na edição 283 do Jornal Pessoal. Desde então, venho acompanhando o assunto. Nunca fui contestado pelos Maiorana, nem por Rodrigo Chaves. Ao ser intimado a comparecer à Receita Federal, ele admitiu serem frias as nove notas fiscais e dois recibos que emitiu entre 1996 e 1997 para a Indústria Tropical Alimentícia. Com esses papéis, a empresa justiçou a construção de um galpão, onde funcionaria a fábrica de sucos. A estrutura teria sido posta abaixo por um vendaval, que teria ocorrido na área, mas atingiu apenas a construção dos irmãos Maiorana.
Com base em vasta documentação, comprovando a fraude com as notas e o desvio de recursos públicos, a Receita Federal encaminhou o inquérito ao Ministério Público Federal, em 2000. O MPF fez a denúncia em 2008, enquadrando os Maiorana em crime contra o sistema financeiro nacional (mais conhecido como crime de colarinho branco). Nessa época, a fraude de 1995 já havia prescrito. Por isso, o crime não podia mais ser punido. Restavam as manobras que permitiram aos Maiorana receber colaboração financeira dos incentivos fiscais da Sudam em 1996 e 1997.
No total, em valor da época, os irmãos tiveram acesso a R$ 3,3 milhões. O projeto, ao final, absorveria R$ 20 milhões de então. Para receber o dinheiro, eles tinham que entrar com 50% de capital próprio. Mas não tiraram um centavo do bolso. No dia da liberação do recurso pela Sudam, eles emprestavam de um banco privado o valor equivalente, que devia ser a contrapartida de recursos próprios, mas só o mantinham em conta por um dia. No dia seguinte o dinheiro era devolvido ao banco.
O MPF só fez a denúncia pelo crime de fraude para a obtenção de dinheiro público. Não imputou aos Maiorana o outro delito, o de desvio de recursos públicos, caracterizado pela fraude na construção do galpão que o inusitado vendaval teria destruído. A prova da construção eram as notas fiscais fornecidas pelo cidadão que me ameaçou de agressão física no domingo (12/12).
Obrigação profissional
A ameaça foi perpetrada num dia histórico para o Pará, a primeira unidade da federação brasileira a decidir, pelo voto direto e universal dos seus cidadãos, se aceita ou não a divisão do seu território, o segundo maior do país, para a criação de dois novos estados, de Carajás e Tapajós. O próprio presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o também ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowsi, veio testemunhar pessoalmente esse momento histórico. Foi a primeira vez que um presidente do TSE participou de uma sessão do TRE do Pará. Mas não chegou a testemunhar um ato representativo de como age e pensa parte da elite paraense que monopoliza o poder na capital e, pensando só em si, dá motivos às regiões mais distantes de tentar se separar do estado para conseguir maior atenção e cuidados, numa terra marcada pela desigualdade social, violência e a impunidade. E onde ficou famosa a frase de um caudilho: de que, por aqui, “lei é potoca”.
O grupo de comunicação dos irmãos Maiorana tomou parte na campanha, dizendo-se intérprete da vontade da população. Já publicou dezenas de editoriais contra o ex-senador Jader Barbalho, acusando-o de ter enriquecido apropriando-se de dinheiro público, com destaque para o dinheiro da Sudam, que teria desviado para os próprios bolsos. Mas os Maiorana, que cometeram o mesmo crime, não querem que ninguém escreva sobre seus atos. Um deles, Ronaldo Maiorana, beneficiário das notas frias do meu quase agressor de domingo, me agrediu fisicamente quase sete anos atrás, em janeiro de 2005, tendo a cobertura de dois militares da ativa da PM paraense, que transformou em seus capangas.
Por ironia, essa agressão se consumou em outros dos restaurantes da rede Pomme d’Or, onde agora fui ameaçado por um integrante da confraria dos Maiorana. Por outra ironia, tive que ir de novo à mesma seccional onde dei a primeira queixa. As agressões, ameaças e intimidações prosseguirão? O poder público fará a sua parte, de fazer respeitar a lei e dar garantias ao cidadão do exercício de seus direitos?
Aguardo as respostas, que cobro como um simples cidadão, às vezes sozinho, mas convicto do seu direito. E da obrigação que sua profissão lhe impõe: dizer a verdade. Mesmo que ela incomode poderosos e truculentos.
***
[Lúcio Flávio Pinto é editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)]

sábado, 10 de dezembro de 2011

A educação transformada em espetáculo!

 Professor Pop Star
Um professor de ensino básico enfrenta vários desafios ao longo de sua carreira: classes superlotadas; alunos problemáticos, indisciplinados e muitas vezes violentos; colegas de trabalho estressados, diretores omissos e a falta de material didático adequado para ministrar as suas aulas estão entre as principias reclamações dos profissionais da educação. Tudo isso sem contar o baixo salário, o que faz da carreira docente uma das mais mal remuneradas entre as profissões que exigem curso superior. Não bastassem todas estas mazelas, nas últimas décadas surgiu um novo tipo de professor que vem contribuindo significativamente para banalizar o magistério. Trata-se do “professor-show” (ou “professor-popstar”); docente que, sob o pretexto de tornar as aulas mais atrativas, apresenta uma postura anedótica em sala de aula, com atitudes que beiram o ridículo. Com uma postura que privilegia aspectos performáticos em detrimento dos conteúdos pedagógicos, não demoraria muito para o “professor-show” chegar à programação televisiva.
Eis que surge, então, o quadro “Conselho de Classe”, exibido pelo Fantástico. O quadro em questão (realizado nos moldes de umreality show)acompanha, desde o início do ano letivo, a rotina de quatro professores – Ernesto (Matemática), Walter (História), Elaine (Língua Portuguesa) e Érica (Biologia) – de uma escola pública do Rio de Janeiro.
O que é “eletrizar a plateia”
No programa exibido no domingo (04/12), o destaque foi o professor de História, Walter Lopes, que assevera ter a fórmula infalível para controlar uma turma de adolescentes e manter todos eles “ligados” na aula: promover aulas mais divertidas, dinâmicas e interativas. A partir de então o que se viu foi uma sucessão de situações anódinas, que lembravam mais um programa de auditório do que uma sala de aula. O professor Walter, que abusa de gírias e trejeitos estranhos, começa o seu trabalho afirmando: “Tem que estar ‘ligadão’ na aula para responder assim, de bate-pronto.” Desse modo, com um tom de voz consideravelmente alto, inicia uma atividade de pergunta e resposta com seus alunos: “É assim que eu quero, preciso de vibração, pô!”
Posteriormente, ao questionar a não participação de alguns alunos, o professor abusa de um sentimentalismo barato, digno de uma novela mexicana: “Eu sou um professor carente, eu preciso de atenção.” A sala de aula se transforma então em um palco, onde o que importa não é a assimilação do conhecimento, mas “eletrizar a plateia”. O depoimento de uma aluna resume bem a aula do professor Walter: “No final, ele faz uma palhaçada e aula fica bem mais legal.”
Desserviço à educação
Evidentemente, não estou defendendo o método tradicional de ensino, baseado em uma pedagogia meramente repetitiva e autoritária. Lembrando Adorno, a educação deve ter como princípios evitar o autoritarismo e buscar a emancipação humana. No entanto, resolver os problemas disciplinares em sala de aula é uma questão complexa que envolve desde aspectos intraeducacionais a fatores extraeducacionais. Obviamente, fazer da sala de aula um picadeiro não vai, em hipótese alguma, solucionar esta questão.
Portanto, um professor não pode contribuir para melhorar a educação brasileira transformando suas aulas em um espetáculo circense (com todo o respeito aos profissionais dessa área) ou se expondo ao ridículo, dançando de forma escalafobética na TV. Exercer o magistério é uma atividade séria, não é um entretenimento.
Em suma, o quadro “Conselho de Classe”, ao apresentar alunos e professores em situações esdrúxulas, é mais um desserviço prestado à educação por parte da grande mídia.
***
[Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas, Brasil: Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de História e Geografia em Barbacena, MG]
Este texto do professor Francisco Ladeira da UFJF -MG foi postado no site Observatório da Imprensa.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/

Veja o primeiro programa da série do Fantástico no You Tube:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=i64QZTrlE70#!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

II EELLA, A REMARKABLE DAY!

The II EELLA (Encontro de Estudantes de Lingua e Literatura Anglofonas) took place in Marabá. It was a remarkable day for the students. They all had the chance to present their works at the campus' auditorium.
The morning started with a lecture by professor Isabel. She talked about the use of the internet, digital literacy and ethics as important issues for teachers and students nowadays.
 Prof. Isabel talked about digital literacy.
After that, students had the chance to participate of a workshop: A Interculturalidade nas Crônicas de Narnia e de São Paulo. Joyce Cordeiro, Ana Maria and Julio Cezar were the students who prepared a haunted maze where people could experience the contact to the amazing characters of the literature fables.
At 10:00am, students could watch the movie OLHOS AZUIS, a brazilian movie which talks about prejudice, xenophoby and intercultural issues. The movie was later the theme of a discussion led by teacher Jairo Souza at the auditorium.
Movie: OLHOS AZUIS
In the afternoon, the lecture of professor Dan Baron from Wales was definitely another remarkable moment of the event. Professor Dan has been living in Marabá for many years and talked to the students about his life, his work and projects in Brazil. The best thing is that everyone had the chance to listen and speak English as well.
Dan Baron talked about cultural literacy in Brazil.
Kenny, Talitha, Amailton, Dan Baron, Gleiciane, Delainy, Ava and Evandro after the lecture.
Along the day, we also had Literature and Linguistic Presentations. Some of the themes involved: W.B. Yeats poetry, Chaucer works and spooky stories as well.
Other topics: cultural issues in English textbooks in Brazil, textbooks reviews and EFL classes issues. In order to see more pics, you can click at the PICASA album here on this page.
My congratulations to all those who somehow contributed to this remarkable day!




Acessibilidade na UFPA: pra quem?

 Onde foi parar a "acessibilidade"?
É INACEITÁVEL o que vem ocorrendo com a rampa que dá acesso ao auditório do Campus I. Desde que foi construída, ela tem sido diariamente usada por motoristas irresponsáveis como estacionamento pros seus carros!

Além de esses motoristas negarem o devido acesso às pessoas, corre-se o risco de a rampa, que é um patrimônio público, ser destruída pelo constante mau uso.

Apenas mais um dos vários carros que tem estacionado sobre a rampa.
Na manhã desta sexta-feira (09/dez), presenciei um usuário de cadeira de rodas, que se dirigia ao auditório, sendo praticamente carregado por outras pessoas para chegar à rampa,  já que um carro bloqueava o acesso. 
É sabido por todos que o estacionamento do Campus I não comporta mais o número de carros que frequenta o espaço, mas isso de forma nenhuma justifica esse comportamento boçal.
Até quando seremos coniventes com essa irresponsabilidade? Precisamos (cada um de nós, entre professores, técnicos, estudantes, vigilantes) tomar uma atitude com urgência. Sugiro, no mínimo, sinalizar o local; mas antes de tudo, é necessário uma tomada de consciência sobre os direitos do outro.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

II EELLA ACONTECE NESTA QUARTA (07/12)

 Tapiri: campus I
O II EELLA (Encontro de Estudantes de Lingua e Literatura Anglófonas) acontece nesta quarta-feira no auditório do campus I. Vejam a programação deste ano:
 
PROGRAMAÇÃO.

Manhã
(08:00-08:30) Credenciamento
(08:30-09:00) Abertura
(09:00-10:00) Palestra da Prof. Isabel Rodrigues
(10:00-10:30) Debate
(10:30-12:30) (sala)Oficina/ (auditório)Filme: Olhos Azuis. Produção: EUA/BRASIL, com cometários do prof. Jairo Souza.

Tarde
(14:00-16:00) Comunicações de literatura
(16:00-17:00) Palestra do Dan Daron
(17:00-17:30) Debate
(17:30-18:30) Comunicações de linguística
(18:30) Encerramento

Oficina
A interculturalidade das crônicas de Nárnia e de São Paulo. Embarque nessa viagem para um mundo fantástico
(Júlio Cezar de Jesus Costa, Joyce Cordeiro Rebelo & Ana Maria da Silva)

Comunicações de literatura
·         W. B. Yeats e a Poesia “When You Are Old”
(Beatriz Souza, Hernan Barros, Laissy Barbosa e Leidaiana Gaia)
·         Geoffrey Chaucer: Os Cantos da Cantuária
(Andréia Dantas, Ilze Silva, Isabela Aquino, Lídia Ribeiro, Lorruma Gomes e Martianny Castro)
·         Conto “An ideal family”
(Adria Sousa, Ana Maria da Silva, Gleiciane Rodrigues e Rina dos Santos)
·         “A clean, Well lighted place”
(Ava Costa, Talitha Gama e Tiago Maia)
·         Cultura fantasmagórica
(Giovania Bertti e Cláudia Romantic- Ezer)

Comunicações de linguística
Sala 10
·         Gramática nos livros didáticos
(Adria Sousa, Barbára Leite, Fidelainy Sousa, Gleiciane Rodrigues e Rina dos Santos)
·         Aspectos culturais nos livros didáticos de língua inglesa
(Ava Costa, Anna Leide Gomes, Maclem Erane Santos, Talitha Gama e Tiago Maia)
·         Atividades de writing no livro didático
(Giovania Bertti, João Rodrigues, Claudia Romantic- Ezer, Samara Silva & Mayara Lima)
Sala 11
·         Uma análise da abordagem do speaking no livro didático HELLO
                (Gisélia Almeida, João Marcelo Oliveira, Amailton Paixão, Joyce Rebelo, Ana Maria Silva & Thiago Soares)
·         O ensino e a aprendizagem da língua inglesa e os mecanismos de alienação nas relações entre professor e aluno
(Joyce Cordeiro Rebelo)

Comunicações de 15 a 20 min e tempo para debate apenas no final da todas as apresentações.
Oficina de 2h.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Sírio Possenti nos convida a refletir sobre gramáticas.

Com exceção de alguns especialistas, todos fomos levados a crer que uma gramática é um compêndio de regras que devem ser seguidas. Ela é praticamente reduzida a uma lista de acertos, o que provoca o surgimento de listas de erros.
Uma enormidade de apostilas, sites, blogues de especialistas em ‘reprodução’ fornece a curiosos ou a pseudonecessitados outras listas com as formas que podem e as que não poderiam empregar em seus relatórios (mas empregam...).
É verdade que esse tipo de regra (listas?) é uma gramática, mas apenas em um sentido da palavra e que leva em conta apenas uma das funções que tais obras desempenham em sociedades como a nossa.
Sua principal função é manter e realimentar o imaginário sobre uma suposta língua correta e bonita, sempre mais antiga. Outra função é contribuir com um ingrediente muito importante para cimentar a ‘unidade nacional’, com a ideia de que somos um povo que falamos uma só língua (tese fácil de desmentir, aliás, mas suficientemente forte para resistir a argumentos e a fatos).
Nunca se ouve, em uma festa ou em mesa-redonda, alguém perguntar pela classificação de “exceto”, ou se “fantasma” é abstrato. Mas todos querem saber se a pronúncia correta é “ibero” ou “ibero” (as letras em negrito representam as sílabas tônicas), se é ou não um sinal do fim do mundo que se diga “Minha bolsa cabe de tudo” e onde vamos parar se os jovens não distinguem mais “ascendência” de “descendência” e se escrevem “ele se difere dela”, em vez de “se diferencia”.
Enfim, as gramáticas não só prescrevem. Elas também descrevem e tentam explicar fatos de linguagem que ocorrem, seja na escrita (que é muito diversificada), seja na fala (ainda mais variada).

Quantos pronomes (de fato)?
Uma gramática, mesmo dessas conhecidas (são mesmo conhecidas, ou só conhecemos seus subprodutos simplificados?), não contém apenas regras que indicam como falar e, principalmente, escrever.
As gramáticas também contêm descrições e análises e, portanto, uma metalinguagem (fonema, radical, passiva sintética, oração, subordinada, substantivo abstrato, adjetiva explicativa etc.). Uma das limitações dessas gramáticas é que só tentam descrever uma determinada amostra da língua escrita, relacionada com a literária.
Para mostrar a diferença entre uma gramática que descreve fatos e uma que basicamente prescreve regras, considere-se o caso dos pronomes pessoais e a conjugação verbal a eles associada.
Conforme qualquer gramática (ou manual escolar), os pronomes pessoais retos são “eu, tu, ele/a, nós, vós, eles/as”. Mas quem, atualmente, fala ou escreve “vós”, ou mesmo “tu”? Não é um fato que, para muitos (a maioria) falantes cultos do português do Brasil, os pronomes são “eu, você, ele/a, nós (a gente), vocês, eles/as”?
No português culto antigo, havia seis formas verbais. No atual, há quatro (quando se diz “nós”) e três (quando se diz “a gente”).
Como as línguas são variáveis, este quadro é parcial. Regional, provavelmente. É que há regiões ou ocasiões em que se usa “tu”. Aliás, com duas conjugações verbais, sendo que uma é mais formal (“tu lavas”) e a outra, mais informal (“tu lava”). São fatos.
Uma gramática adequada apresenta, classifica, descreve e explica fatos. Por exemplo, quanto mais numerosas forem as formas verbais e quanto mais houver correspondência de cada uma delas com um pronome (ou um tipo de sujeito), maior a probabilidade de que o sujeito possa ser ‘omitido’: quem diz “lavamos” não precisa (mas pode) dizer “nós”; quem diz “lava” precisa explicitar o sujeito: tu, ele, a gente; exatamente como se aprende essa regra em inglês, língua cujos verbos quase não têm flexões ‘pessoais’.
Quem apita?
Infelizmente, em relação às línguas, mais do que em relação a qualquer outro tópico, aprendemos que há formas corretas e formas erradas. O que representa entregar a arbitragem sobre as formas da língua a critérios sociais mais que a critérios estruturais e mesmo históricos. É que uma análise histórica desmente o mito de várias maneiras.
Mostra que certas formas analisadas como erros atuais de pessoas pouco escolarizadas são formas antigas que foram preservadas em certas camadas da população. Por exemplo, “ele pissói” tem a ver com a forma “pessuir”, que é um arcaísmo, e não um ‘caipirismo’.
Camões escreveu: “cesse tudo o que a musa antiga canta / que outro valor mais forte se alevanta”, mas todos achamos que “alevantar” é erro de caipira.
A história desmente o mito da decadência das línguas. O principal argumento é que nunca houve línguas ‘perfeitas’. Se todas elas mudam com o passar do tempo (um dos poucos fatos não controversos no campo), então não há erros, do ponto de vista da estrutura da língua.
De fato, o que classificamos como erros são apenas formas que não têm prestígio em determinada sociedade, em determinada época. Mas as mesmas formas podem ter tido prestígio em época anterior ou vir a tê-lo em fase posterior.
Pode parecer um escândalo (comparável à proposição do heliocentrismo), mas um analista ‘sem ideologia’, que visse apenas os fatos, sem considerar o valor que uma sociedade lhes confere, diria que

eu lavo
(vo)cê lava
ele lava
nós lava
(v)cês lava
eles lava

é uma conjugação gramatical, que segue regras (no sentido de que é regular). Nenhum dos falantes que usam estas formas (e eles existem) está errado (no sentido de que não sabe sua língua), nem é verdade que fala de qualquer jeito (não se ouve “nós vou” e “eu vai”). Nem é verdade que assim não nos compreendemos (se alguém não compreende isso, então está mal!). Tampouco é verdade que a língua está em decadência.
Fora de moda
Mudar não é decair. É assumir novas formas, como ensina a evolução das espécies, e também a moda e a tecnologia. Dizer “vós ides” é como usar gravata borboleta ou peruca empoada. Claro que não é um erro. É uma forma antiga, com efeitos de sentido específicos.
E o que faria a escola se analisasse e lidasse com a variedade da língua que é de fato a norma culta de hoje (eu disse “norma culta”!)? Muitas coisas poderiam mudar (para melhor, com certeza).
Faço apenas dois comentários, por ora: a) é claro que ninguém vai ‘atualizar’ romances e poemas antigos (exceto, talvez, sua grafia) – que é preciso aprender a ler; b) qual professor espera que os alunos escrevam formas como “vós laváveis” nas redações?
Se podemos escrever “vocês lavam, amam, sofrem, vão”, por que devemos decorar “vós ides”, “vós fosseis” e preencher lacunas ‘corretas’ com essas flexões? Uma forma vale em uma aula e não vale na outra?
Imagine-se um professor de física ensinando Ptolomeu em uma aula e pedindo soluções newtonianas na seguinte! Não esqueçamos que a ‘tabela periódica’ de Aristóteles tinha quatro elementos: ar, água, terra e fogo. Quem a ensinaria hoje, a não ser como questão histórica?
***
[Sírio Possenti é professor no Departamento de Linguística da Universidade Estadual de Campinas]

.: Tapiri perdeu seu Derze!

                                               .: Tapiri perdeu seu Derze!: Cartaz de despedida
Durante os últimos quinze anos e oito meses o senhor José Derze  Bastos, foi o locatário do "Tapiri" da UFPA, um espaço dedicado ao lazer e convivência e que teve momentos de glórias. Mais neste sábado (3) José Derze se despediu sem que houvesse uma despedida! Como a UFPA solicitou o espaço para fazer uma reforma e vai abrir um processo licitatório para um novo período de contrato, Derze teve que partir.
Perde o Tapiri, perde a UFPA!
Todos nós perdemos!
Derze, figura amiga, simpática e cheia de gracejos e anedotas, colecionou muitos amigos naquele balcão. Alguns ele selecionava na hora de ofertar um licor de murici ou outra iguária.
Mas não teve tempo de se despedir, a não ser o cartaz afixado nos últimos dias com o anúncio e o agradecimentos a todos.