terça-feira, 13 de março de 2012

As dificuldades para se chegar a proficência.

Aconselhamento Linguageiro.
 De acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas, no qual estão descritos os objetivos a serem alcançados por estudantes de línguas estrangeiras, o nível C1 é o recomendado para quem quer ser professor, pois indica um nível de proficiência adequado nas quatro habilidades fundamentais no aprendizado de uma língua estrangeira: ouvir, falar, ler e escrever.
Na Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas da UFPA (Falem), mesmo com todas as possibilidades para atingir o nível C1 em suas quatro licenciaturas – Línguas Inglesa, Francesa, Espanhola e Alemã, a desmotivação tem impedido alguns alunos de alcançarem esse nível. O projeto de iniciação científica desenvolvido por Kamila Santos Santana buscou investigar as razões dessa desmotivação.
O trabalho, cadastrado no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), insere-se no Projeto "Caminhos da autonomia na aprendizagem de Línguas Estrangeiras: o papel da motivação", coordenado pela professora da Falem Walkyria Magno e Silva, a qual procurou, desde 2008, trabalhar com mecanismos motivacionais que fazem o aluno persistir nos seus objetivos e não se desviar da busca da proficiência adequada ao ensino da língua estrangeira.
"Nossa principal fonte de estudos advém dos trabalhos do pesquisador Zoltán Dörnyei, da Universidade de Nottingham (Inglaterra), o qual desenvolveu um modelo dinâmico de compreensão da motivação na aprendizagem de línguas estrangeiras. Para ele, a motivação é como se fosse uma maré, que enche e vaza. Quando se entende isso, é mais fácil trabalhar com estratégias automotivacionais, procurar mecanismos para contrabalancear as desmotivações: aceitando-as e, no momento certo, lutando contra elas", explica a professora Walkyria Magno.

Heterogeneidade da turma é fator de desmotivação

Durante a pesquisa, Kamila Santana e Walkyria Magno trabalharam com um grupo de sujeitos composto por 16 alunos, os quais foram submetidos à aplicação de questionários em escala Likert, com assertivas pertinentes ao problema abordado. Dos 16 alunos, oito, sendo dois de cada língua estrangeira, foram escolhidos para participar de entrevistas diretas por terem apresentado respostas incongruentes ou instigantes ao problema.
Os 16 discentes foram escolhidos por meio de visitas às turmas da Falem e entre alunos que foram de uma a três vezes aos encontros de orientação na Base de Apoio à Aprendizagem Autônoma (BA³). Institucionalizada em 2010 no projeto pedagógico da Falem, a BA³ é um laboratório onde tutores ensinam os discentes a aprenderem de forma autônoma e com recursos diferenciados dos recursos habituais.
"Um laboratório de línguas estrangeiras não é um lugar onde você simplesmente põe um fone de ouvido e escuta a língua. É um local com tutores para que os alunos experimentem maneiras de aprender uma língua, as quais podem ser por vídeos, jogos, conversas e internet. No entanto não basta dizer 'vá para a internet e aprenda’. É preciso ensinar a aprender e é isso que a gente faz na BA³", ressalta a professora.
Entre as principais causas de desmotivação, destacam-se: a falta de autonomia dos alunos, os conflitos de estilos entre professor e aluno, a dificuldade no gerenciamento do tempo para se dedicar ao estudo da língua estrangeira, a heterogeneidade das turmas e o fato de muitos discentes não se verem como professores ou não desejarem ser professor no futuro.
Para a bolsista Kamila Santana, um dos fatores de desmotivação que mais lhe chamaram a atenção foi a falta de autonomia dos alunos. Por não se sentirem responsáveis pela aprendizagem, os sujeitos não buscam estratégias disponíveis para melhorá-la, o que leva à desmotivação. A bolsista acrescenta que "a desmotivação não é algo restrito ao âmbito acadêmico, também está presente nas escolas de idiomas. A aprendizagem de uma língua estrangeira é um processo longo e cada aluno vai levar um determinado tempo. É durante esse tempo que ocorre a variação da motivação".

Preconceitos - A professora Walkyria Magno chama a atenção para a heterogeneidade das turmas na UFPA. O desnível de proficiência entre os ingressantes na Instituição pode gerar preconceitos e, por conseguinte, a desmotivação. "Por exemplo, entram alunos com conhecimento total, que já moraram no exterior e falam inglês, e outros que estão aprendendo inglês desde o nível 1. Atualmente, isso é necessário, porque nós não temos como garantir a aprendizagem de línguas na educação básica, o que gostaríamos que acontecesse, pois o discente já entraria na Universidade com certo conhecimento. Como isso ainda não ocorre, pelo menos, podemos garantir que os alunos que desejem se licenciar em uma língua estrangeira possam fazê-lo, mesmo sem  nunca ter frequentado cursos de idiomas".
Laureado com o prêmio de melhor relatório Pibic na área das Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes no XXII Seminário de Iniciação Científica, realizado em setembro deste ano, o trabalho de iniciação científica da discente Kamila Santana, mais os resultados encontrados estimularam o surgimento do Projeto "Aconselhamento linguageiro visando à autonomia e à motivação na aprendizagem de línguas estrangeiras".
O novo projeto de pesquisa, também orientado pela professora Walkyria Magno, propõe, por meio de conversas com cada aluno, o confronto da desmotivação, procurando entender a sua trajetória de aprendizagem e orientá-lo para uma postura mais autônoma e motivada.
"Este novo projeto é basicamente uma conversa entre o tutor e um discente que está tendo dificuldade de aprendizagem. A nossa ideia é fazer com que esse aluno estabeleça uma relação com o seu passado recente, quando ele não sabia tanto quanto sabe agora, levando-o a ver que as dificuldades de hoje não existirão no futuro. É uma espécie de ação tranquilizadora para os alunos", finaliza a professora.
FONTE:http://www.ufpa.br/beiradorio/novo/index.php/leia-tambem/1314-dificuldades-para-chegar-a-proficiencia

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