sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Buracos é o que Mineração nos deixa. Texto de Lucio Flávio Pinto.

“Graças à sua estratégica posição geográfica – no cruzamento de grandes rodovias, da futura ferrovia Carajás-Itaqui, nas margens da hidrovia do Tocantins, com disponibilidade de energia a ser fornecida por Tucuruí – Marabá possui especial vocação não apenas para centro comercial, agropecuário e produtor de bens minerais, mas também para tornar-se importante polo metalúrgico. Certamente, na virada do século, Marabá deverá ser um dos importantes centros industriais do país, com população superior a 200 mil habitantes”.
Esta previsão foi feita em 1980. Seu autor é o geólogo paulista Breno Augusto dos Santos. Ele era então – e continua a ser até hoje – uma das pessoas mais autorizadas a fazer considerações vívidas e profundas sobre a região dominada pela maior província mineral do mundo, a de Carajás, no centro-sul do Pará.
Breno pode ser considerado o descobridor da melhor jazida de minério de ferro do mundo por ter coletado, em 1967, a primeira amostra que definiu a existência do conjunto de bens minerais de Carajás. Quando começou a ser explorada, em 1985, tinha 18 bilhões de toneladas de minério, lavrável a céu aberto (que proporciona mineração mais barata).
Ao preço médio do ano passado, significaria uma riqueza de 1,3 trilhão de dólares, equivalente a mais da metade do PIB brasileiro do ano passado, de US$ 2,3 trilhões (a soma de todas as riquezas do país). Se constituísse um país, Carajás teria um PIB do tamanho do da Espanha.
Quase tudo que Breno anteviu para o momento de passagem dos dois séculos se confirmou, menos a condição de Marabá, a principal cidade da região, com quase 250 mil habitantes, como importante centro industrial do país.
Certamente esta seria a conquista principal de todo processo que ocorria quando Breno escreveu essas palavras, no trabalho “Geologia e potencial mineral da região de Carajás”, apresentado no Rio de Janeiro quase um quarto de século atrás.
Como o próprio Breno mostrou nesse estudo, todos os fatores se combinavam para o melhor dos resultados: a quarta maior hidrelétrica do mundo, o maior trem de carga que existe na Terra, um dos melhores portos mundiais, uma hidrovia de dois mil quilômetros e várias extensas rodocias. Mas essa perspectiva se frustrou.
Marabá cresceu, deu origem a vários outros municípios e ainda continuou a ser a capital do vale do Araguaia-Tocantins (drenando 8% do território brasileiro), embora perdendo a hegemonia quantitativa para Parauapebas, polo especializado em mineração e, por isso mesmo, dilacerado entre seu potencial de desenvolvimento e sua situação real (continua pobre, embora seja o 2º município que mais exporta e o que mais gera saldo de divisas para o país).
Não basta dispor de recursos naturais e de vantagem locacional se não se conta com inteligência aplicada. O crescimento da região de Carajás é tão impressionante quanto desequilibrado. Gera efeitos surpreendentes e nem assim leva ao desfecho mais desejado, que seria a agregação de riqueza cada vez maior para o reinvestimento, a ampliação da base produtiva e o melhor benefício social. Ao invés disso, desorganização, violência, desperdício, irracionalidade, caos.
O tempo passa e à medida que o seu avanço mantém essas características predatórias, com a exaustão de recursos finitos e a não renovação daqueles que podiam ser utilizados em maior extensão e intensidade, o pêndulo da história vibra contra as aspirações da região.
O crescimento populacional pode fazer Marabá alcançar a terceira posição no ranking estadual nos próximos anos. As atividades econômicas extrativas se multiplicam. Há novos meios de transporte, mas não a hidrovia. E a energia criada pela hidrelétrica de Tucuruí foi transferida para outros centros consumidores, deixando de exercer o efeito multiplicador no local. O perfil que se consolida é nitidamente colonial.
Mas ainda não é definitivo. As inteligências podem corrigir ou mudar os rumos. Para que esse objetivo esteja ao alcance das pessoas é preciso entender o que acontece e se antecipar às iniciativas que só favorecem o benefício de poucos – e de outros que não os moradores da região. É preciso adensar e atualizar o conhecimento dos fatos e dos processos para que o planejamento seja mais do que figura de retórica, como agora.
Alguns segmentos procuram estimular o interesse pelas questões da região de Carajás, consciente da urgência das decisões que precisam ser tomadas. O retorno, porém, está muito aquém das necessidades sociais. A extração de minério em Carajás já produziu uma receita bruta de mais de 300 bilhões de dólares em 25 anos. Mas o que foi reinvestido na região: O que ficou nela, mesmo que na forma de salários e imposto? O que deixou de nela ingressar por falta de novas atividades produtivas extensivas à simples extração mineral?
Como minério não dá suas safras, a escalada da produção, que nesta década passará de 100 milhões de toneladas ao ano para 230 milhões, ou se aproveita melhor a renda do recurso natural, ou, como sempre, o que restará será o buraco no lugar do minério.
Em quase todos os casos da mineração de ferro, que movimenta volume de rocha e terra que se medem por bilhões de toneladas, a regra é que a cava se transforme num lago artificial, que, quando muito, se transforma em ponto de atração para visitantes ocasionais. Não compensa nem de longe o que se perdeu com a exploração apenas da matéria prima.
Por isso, a pergunta mais importante e urgente que se faz sobre Carajás é: devemos concordar com o nível tão intenso de lavra mineral? O que nos restará mesmo são essas enormes cavas e reduzidos benefícios – e ponto final?
Lúcio Flávio Pinto | 25 de janeiro de 2013 às 5:53 pm | Categorias: Uncategorized | URL: http://wp.me/p2lHtc-5r

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O (DES) CASO REUNI - Letras Inglês em Marabá

O curso de Letras Inglês no campus de Marabá iniciado através do programa do governo federal REUNI (http://reuni.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=25&Itemid=2) encontra-se hoje em situação muito precária e apesar de muitos esforços dos professores que nele atuam desde 2010, a falta de mais professores e infraestrutura tem se mantido como marca de sua realidade. 
No campus de Marabá, pode se afirmar que dos cursos implementados desde 2009, o de LETRAS INGLES é o mais "sucateado". O curso está funcionando praticamente dentro da proporção de um (1) professor por turma de graduação. Temos hoje no campus 4 (turmas - 2009,2010,2011,2012) e com previsão pra mais uma turma em 2013. 
Oficialmente, o governo federal através do REUNI disponibilizou 10 vagas para professores neste curso em Marabá, o que nunca se consolidou e nem muito menos foi esclarecido por nenhuma das instâncias institucionais (UFPA/MARABÁ/BELÉM) até hoje. Faço um apelo a todos da comunidade acadêmica incluindo aqui mais diretamente, seus professores e alunos para juntarmos forças e exigir da UFPA melhores condições de trabalho e estudo para a continuidade desta graduação no município de Marabá.
Na infraestrutura, o curso simplesmente não possui espaço físico dentro do campus para o seu funcionamento, todas as salas alocadas para que suas atividades aconteçam pertencem a outros cursos em funcionamento dentro do mesmo campus, ou seja, o curso de LETRAS INGLÊS NÃO TEM ENDEREÇO dentro do campus, o curso não existe, salvo o momento em que as turmas estão em aula. Isso tudo acabou custando ao curso, uma nota 3 (três) em sua avaliação pelo MEC ainda em 2012, cujos avaliadores foram bem "generosos" dada a realidade encontrada.
Apesar de o curso de LETRAS INGLÊS estar vinculado a Faculdade de Estudos da Linguagem, o espaço administrativo da faculdade foi planejado originalmente para o curso de LETRAS PORTUGUÊS e não atende a necessidade de espaço que requer uma graduação de nível superior.
Lamentável também foi o que ocorreu mais recentemente no curso; um professor efetivo que havia assumido suas funções em sala de aula há pouco mais de 2 meses, simplesmente pediu exoneração deixando todas as suas turmas no meio do semestre sem grandes explicações precarizando ainda mais o curso. O mais espantoso nesse caso foi que o professor só comunicou formalmente a comunidade acadêmica há uma semana de sua saída - inviabilizando todo o planejamento de dois semestres (atual e próximo) forçando todo o corpo docente remanescente a se reprogramar, montar novo calendário e "correr" atrás de outros professores de uma hora pra outra, complicando a vida academica de dezenas de estudantes que tem seus nomes matriculados/registrados no sistema com expectativas de vencer mais uma etapa de seu curso.
A cada concurso para novos professores de inglês, estabelece se o trâmite burocrático de sempre que leva até meses para se consolidar, gerando cobranças dos discentes que muitas vezes não entendem os processos por não terem interesse ou não se apropriaram do conhecimento de funcionamento do espaço público e/ou da universidade, bem como de seus direitos como estudantes de uma instituição pública federal. Falta uma cultura política estudantil mais esclarecedora do contexto universitário que possa inclusive auxiliar os estudantes a lutarem por seus direitos de forma crítica e consciente.
Hoje, o curso tem expectativas de concurso para mais dois professores efetivos. Uma dificuldade que se apresenta também é que os concursos sempre são aberts para PROFESSOR ADJUNTO, ou seja, para a titulação de doutorado, o que diminui o número de candidatos na região, impossibilitando candidatos com mestrado de se increverem. Consequentemente, além dos candidatos serem poucos, eles acabam vindo de outras regiões do país e com muita frequencia, têm sérias dificuldades de adaptação a realidade amazonida, o que independentemente de titulação, pode comprometer a qualidade do trabalho e da realização das premissas basilares de uma universidade: ensino-pesquisa-extensão. Num momento histórico em que se buscam novos paradigmas, uma ressignificação do global e do local, é imperativo que o professor universitário possua, como profissional e como ser humano, um olhar livre de concepções neocolonialistas e/ou eurocentricas. Precisamos lutar por um protagonismo amazonida e sem importação de fórmulas "dadas"ou preconcebidas nos chamados "grandes centros" cientificos. 
Tenho clareza que na área de LETRAS INGLÊS se trata ainda de um grande desafio se livrar de certas amarras preconcebidas e assimiladas historicamente por políticas neoliberais que se apresentam mais descaradamente, por exemplo, na LINGUÍSTICA APLICADA  e todo seu aparato teórico-ideológico via USA. Nada disso deve nos desanimar e devemos lutar pela politização dos discursos, questionar idéias globalizantes que surgem para sufocar e apagar diferenças étnico-culturais e assim recolonizar nos. Devemos lutar pelo nosso protagonismo como brasileiro e como amazonida.
Finalmente, reitero minhas palavras e faço um apelo a todos que participam desse curso a juntos lutarmos pela consolidação dessa graduação e que assim possa gerar resultados científicos e político-culturais não só para a comunidade acadêmica, mas também para toda a região em que se encontra a UFPA/Marabá.