segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O Operário Em Construção de Vinicius de Moraes

 Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!

E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.

Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.
Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração

Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.
Composição: Vinicius de Moraes

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Funny Comics.


http://www.stripcreator.com/comics/jsouza2002/532314
That's a very interesting site where you can create your own comicstrips. Visit STRIPCREATOR and have fun yourself.
By the way, that is an amazing tool which can be used by teachers of any discipline including language teachers.

The Matintaperera in the EFL Classroom: An Intercultural Activity.

On Friday 18th, the workshop THE MATINTAPERERA IN THE EFL CLASSROOM intended to bring about a discussion and reflection over language teaching proposals. Focusing on multicultural approach in order to develop a critical view over traditional approaches in language classes.Intercultural activities come up as a very effective way to turn language tasks into a more rewarding and meaningful activity for teachers and learners of english language.
In this video, we have a performance of  two undergraduating students of English as a Foreign Language: Rousely (Matintaperera) and Evandro(Manduca Torquato, a ribeirinho*). The song played by a rock band named Mosaico de Ravena is a version of MATINTAPERERA, a song originally written by Waldemar Henrique. The performance in the dark is part of the scenery and the ambience.
Thanks for all those who took part!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Colóquio Internacional de Formação Inicial e Continuada de Professores de Línguas Estrangeiras: desafios da aprendizagem e do ensino.

Check the link:
http://www.forproli.com.br/cifle/
A Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com o apoio acadêmico e logístico das Faculdades de Letras, em parceria com o Consulado Geral da França e a Universidade de Lyon promovem o "I° Colóquio Internacional de Formação de professores de línguas estrangeiras: desafios da aprendizagem e do ensino".
Articulando a formação continuada dos professores de língua estrangeira a um evento festivo mundialmente conhecido e celebrado, a « Semana da Francofonia », este evento tem o objetivo de fomentar o diálogo intercultural sobre as questões relacionadas à formação inicial e continuada dos professores de língua estrangeira, estabelecendo um intercâmbio entre estudantes, professores e pesquisadores que atuam nesta área. Reforçamos, portanto, que não se trata de um colóquio exclusivamente direcionado aos estudantes, professores e pesquisadores de francês como língua estrangeira, mas também aos de outros idiomas.
Esse espaço dialógico buscará promover a comunicação entre áreas tradicionalmente separadas em setores responsáveis pelos estudos das diferentes línguas e das diferentes literaturas estrangeiras. Junto a isso, a maior contribuição que este colóquio almeja oferecer é a ampliação do escopo de pesquisa, reflexão e debate acerca da formação inicial e continuada de professores de línguas, visto que a maioria dos eventos na área tende a focalizar aspectos específicos da linguagem em discussões que não dialogam com os espaços de formação e atuação docente.
A coordenação e organização deste colóquio será feita pelo Laboratório de Ensino e Pesquisa e Extensão em Formação de Professores de Línguas – FORPROLI – que visa o desenvolvimento de estudos sobre a formação de professores de línguas e literaturas e ensino/aprendizagem destas, no intuito de melhor compreender este campo de atuação profissional, apontando possíveis perspectivas de trabalho num diálogo com os saberes da prática docente.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

MATINTAPERERA: AN INTERCULTURAL ACTIVITY


The workshop MATINTAPERERA: AN INTERCULTURAL ACTIVITY was presented as part of the V SEALL (Seminário de Ensino e prendizagem de Lingua e Literatura) at the campus I in Marabá.
The proposal is to bring about a discussion over our conceptions of language teaching and think of how these perceptions affect directly our job as a teacher of language.
The workshop starts with the teacher's theoretical view over the cultural dimension of language teaching. The necessity to ally both linguistic and cultural competences and a critcism over the traditional approach which works language and culture separately.
The teacher also explained that Halloween parties in Brazil are usually promoted without any criteria and it represents a misunderstood view of teaching with culture. According to the teacher, Halloween parties became popular in Brazil particularly because of the irresponsible attitude propmoted by "cursos livres" all over Brazil which reduce the views of people to one country or national identity, the USA. People have much more to gain if they have got the chance to experience a real interchange in culture: AN INTERCULTURAL APPROACH, NOT AN APPROACH OF ASSIMILATION.
In the end, Rousely and Evandro (photo) performed Matintaperera and Manduca Torquato by the sound of Mosaico de Ravena (rock band) playing "Matintaperera", a song by Waldemar Henrique.
WE HAD A GREAT TIME!

SOON, I'LL POST THE VIDEO HERE FOR YOU!

MEC ALERTA: CUIDADO COM AS PRIVADAS!


O exame avaliou 2.176 instituições de ensino superior, das quais 683 - mais de 30% - apresentaram índices 1 e 2, considerados insatisfatórios (a escala vai até 5). A maior parte é privada - apenas 43 com índice ruim são públicas.
Fonte: MEC cortará 50 mil vagas de cursos mal avaliados - Brasil - Hoje em Dia
O governo realiza exames nacionais com o propósito de justificar cortes que já estavam previstos e os exames funcionam apenas para legitimar mais um dos seus atos irresponsáveis: cortar fundos destinados a educação. 
PRECISAMOS DE UMA EDUCAÇÃO HUMANÍSTICA E NÃO MERCANTILISTA. O PIOR É PERCEBER QUE AS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS ESTÃO CADA VEZ MAIS IMPREGNADAS COM A IDÉIA DE TRANSFORMAR PESSOAS EM PRODUTOS PARA O "MERCADO DE TRABALHO".

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

FAEL - MATRÍCULAS 2012 - CALENDÁRIO.

Divulgado o horário de mátriculas para 2012 da Faculdade de Estudos da Linguagem - FAEL. Confira a sua data de inscrição para o próximo semestre. Visite o blog da FAEL.


                             http://faculdadedalinguagemmaraba.blogspot.com/

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Pelo Sim Pelo Não, Tenho Cá Minhas Dúvidas!

No domingo do dia 11 de dezembro de 2011, o povo do estado do Pará, participará de um plebiscito em que será votado a criação ou não de mais dois estados na região norte do Brasil: os estados do Tapajós e do Carajás, que se localizam dentro da área que compõe o atual Pará. Antes de tratar dessa questão especificamente, faço aqui um convite a uma reflexão. Creio ser importante pensarmos um pouco sobre a realidade desta região. Até porque corremos o risco de ficarmos na passionalidade do SIM e do NÃO que infelizmente tem pautado toda a discussão, deixando de lado importantes aspectos de relevância crucial para um debate mais lúcido, esclarecedor e menos passional sobre o próprio plebiscito e toda a região.
Tradicionalmente, a região norte é o espaço dos grandes projetos, e por conseguinte da promessa de um futuro melhor para muita gente que se dirige ao norte do país. A falta de mão-de-obra qualificada sempre se configurou também numa das razões da enorme leva de trabalhadores para esta região que nunca possuiu infra-estrutura para receber tanta gente em tão pouco tempo. Um exemplo foi a construção da hidrelétrica de Tucuruí nos anos 70, obra que chegou a ter ao longo de sua construção até 40.000 homens trabalhando. Na época, Tucuruí chegou a ser considerada a cidade do Brasil com o maior número de prostitutas per capita, mais uma marca negativa da falta de infra-estrutura e o que nos leva a pensar numa série de problemas entre outras questões decorrentes de tal situação.
A riqueza e a potencialidade econômica do Pará sempre atraíram e atraem até hoje gente de todo o Brasil. O futuro desse estado está intrinsecamente ligado à mineração. Hoje, o Pará é o segundo estado que traz mais divisas para o Brasil, é o terceiro maior exportador de energia com o uso de hidrelétricas, o maior produtor e exportador de minério de ferro do mundo como unidade federativa e possui o maior trem de carga do mundo com uma extensão aproximada de 4km de vagões, que faz várias viagens diárias saindo da região de Carajás para o porto de Ponta da Madeira no estado do Maranhão. Em julho de 2011, a companhia Vale começou a operar com navios no Maranhão com capacidade para levar até 450.000 toneladas de minério, valores e dados que mais do que impressionantes, deveriam funcionar como fatores de desenvolvimento social para a sociedade da região. As discussões sobre o Pará são sempre superficiais,e movidas com um tom de paixão e se resumem ao sim ou não, sou contra ou sou a favor, como no caso de Belo Monte ou do próprio plebiscito em 2011.
Como sempre crescimento econômico não necessariamente representa desenvolvimento para um país ou região. Este é o caso do Pará. Um processo que se intensificou com a privatização da companhia Vale do Rio Doce nos anos 90. A Vale hoje é uma das maiores corporações empresariais do mundo e responsável por lucros exponenciais a partir da extração do minério do solo paraense. Com essa empresa privada, isenta de ICMS, instituído injustificadamente pela lei Kandir, o cidadão brasileiro e mais precisamente quem vive na região norte, fica privado de participar ou usufruir da riqueza extraída de seu próprio território. Os royalties que a Vale paga ao estado são mais do que uma obrigação social de uma empresa que "arranca" dessas terras recursos naturais não-renováveis. A exploração de toda a riqueza mineral e da própria região amazônica jamais se reverteu em desenvolvimento ou melhoria na qualidade de vida de seu povo. Há um paradoxo que se estabeleceu na região – o paradoxo das grandes riquezas, grande pobreza - os lucros gerados pela exploração dos recursos naturais são cada vez maiores, entretanto, para o povo só restam os números dos crescentes níveis de violência aliada ao trafico de drogas e miséria que se alastram por toda a região. É como se fosse a maldição de viver em terras ricas. Quanto mais riqueza se extrai do lugar, mais pobre o povo fica. É como ganhar na loteria e ficar a cada dia mais distante de receber o prêmio.
Projetos como a construção de hidrelétricas (Tucuruí e mais recentemente Belo Monte na região do Xingú), o beneficiamento do minério e lâminas de aço (ALPA) que se implantam hoje na cidade de Marabá, renovam as esperanças de um futuro melhor. Da mesma forma, o plebiscito em dezembro carrega consigo este sentimento atraindo, na esperança de empregos, milhares de pessoas que mais uma vez deixarão sua terra natal em direção ao sudoeste do Pará, um ciclo que se repete há décadas. Alguém ainda se lembra de Serra-Pelada com a promessa de ouro e riqueza? Nada disso, o que se vê em volta das cidades é a falta de infra-estrutura e a total carência de serviços públicos, os mais essências: falta saúde, educação e segurança, particularmente, nas áreas chamadas de "invasões", sinônimos de favela. Na hora de decidir algo importante, Quem toma frente as discussões são grupos empresariais ligados a partidos políticos no poder ou lutando por ele. Um agravante é o fato de os meios de comunicação de maior popularidade, TV, rádio e jornais, serem todos empresas privadas comprometidas com o interesse de famílias ricas da região e que manipulam a opinião pública ao seu bel-prazer e se comprometem apenas com questões comerciais e corporativas.
De acordo com o jornalista Lúcio Flavio Pinto, jornalista paraense do município de Santarém (cidade candidata a se tornar capital do Tapajós) e um estudioso da região há muitos anos, o povo paraense está alheio a tudo o que se passa nesta região. "Faltam lideranças políticas" diz o jornalista, que acredita que o único nome do qual se lembram como líder político é o do ex-senador e ex-governador do estado Jáder Barbalho. Para Lúcio, Jáder representaria uma prova do quanto a região está longe de se libertar de um estigma de atraso, corrupção e abandono. As nações indígenas massacradas historicamente, a chamada "pistolagem" com uma lista infinita de assassinatos impunes e outros prestes a acontecer, a grilagem de terras e a complicada e também já questionada reforma-agrária são apenas algumas das questões que se "arrastam" por décadas; resultado da manutenção no poder de políticos corruptos e de um poder público eternamente ausente sempre com a desculpa das dificuldades de acesso devido a extensão continental do território. Além disso, o papel do homem público ou do político se camufla e se confunde com outros papéis sociais - a figura recorrente nessas terras é a do político, fazendeiro, empresário e acusado de uma série de crimes. Inclusive, no caso de Jader Barbalho, mesmo impedido de assumir nas últimas eleições o cargo de senador porque foi condenado como ficha-suja, foi um dos políticos mais votados em todo o país. Alguns consideram-no o "Maluf" do norte do Brasil.
O jornalista Lúcio Flávio Pinto é um jornalista de vanguarda (um dos poucos) da região e aponta uma série de problemas na proposta de redivisão política e da criação dos estados de Carajás e Tapajós. Uma das questões levantadas pelo jornalista é o fato de nunca ter sido apresentado de forma clara, um estudo que justifique a divisão geográfica da maneira como está proposta no novo mapa da região* ou um projeto que se configure como legítimo de representatividade popular. Os movimentos populares, sindicatos trabalhistas, movimentos religiosos, pastorais da igreja católica, as nações indígenas e muitas outras organizações de cunho popular não participaram da construção desse projeto de novo estado; quando consultadas é muito mais em forma de convite à aceitação de uma proposta já elaborada por grupos com interesses muito particulares e distantes de contemplar uma abordagem realmente democrática. Além disso, existem questões culturais, sociais e econômicas pré-estabelecidas entre determinados municípios que estão sendo completamente ignoradas no "desenho" dos novos estados e que, segundo Lúcio Flavio, só vão agravar ainda mais os problemas da região.
O jornalista cita como exemplo dois municípios: Santarém e Altamira que a princípio se localizariam dentro do novo estado de Tapajós. O problema é que as duas cidades não têm uma relação, nem vínculos econômicos e culturais muito fortes. A cidade de Altamira provavelmente ficaria ainda mais isolada com a criação do Tapajós, pois atualmente Altamira tem mais proximidade econômica com Marabá, que seria capital de Carajás, um outro estado. Tudo isso envolveria, taxação diferenciada de mercadorias e aumento nos custos de circulação de produtos, já que Altamira e Marabá passariam a se localizar em estados distintos. Este é apenas um dos exemplos da complexidade da conjuntura em que se encontram as cidades dessa região. Não se trata aqui de discutir o SIM ou o NÃO do plebiscito, mas sim de problematizarmos e refletir os prós e contras da criação de novos estados. Afinal, as mudanças previstas ou manutenção do atual estado interessam a quem?
Há também aspectos de cunho antropológicos como o de uma miscelânea cultural na região. Fator muitas vezes contraditório, pois ao mesmo tempo que a região atrai pessoas de todo o país em busca de emprego, não há um sentimento muito claro de pertencimento ou identificação com a região e nem há interesse algum de criar raízes com o lugar, fortalecendo sentimentos “bairristas” entre os habitantes de cidades como Marabá, um dos principais pólos da região. Muitos fazem questão de lembrar que até podem ter nascido no norte, mas sua família é originalmente de uma outra região do Brasil, mais desenvolvida e por conseguinte melhor. Estes sentimentos contribuem para que se mantenha um estigma negativo com o local onde se trabalha e onde se vive. O norte do Brasil, ainda hoje, vive sob um paradigma e um estigma de colônia, local "atrasado", de um povo preguiçoso, lugar de onde se extrai o que se pode, para um dia se mudar e viver em um lugar melhor e não construir nesta região esse lugar. Desta forma, sem comprometimento dos locais e influenciados por uma lógica "burra" e distorcida de exploração, os recursos da região estão sendo consumidos em altíssima velocidade há anos e as questões sociais como os investimentos no desenvolvimento humano (saúde e educação) ficam sempre em último plano.
A proposta de divisão, criação de novos estados ou de manter o atual Pará podem ter em si, se analisarmos, muitos aspectos positivos, entretanto, a forma como esses projetos se apresentam, só demonstra que há muito mais um interesse na manutenção de uma política capitalista neo-liberal, de extração e esgotamento dos recursos naturais sem uma prática sustentável (na melhor concepção possível do termo), consumo, exclusão social e criminalização dos movimentos sociais. Em outras palavras, independentemente do resultado do plebiscito em dezembro de 2011, não há sinais de um projeto popular de mudanças concretas, criado a partir da aplicação e usufruto dos recursos naturais de forma transparente, ou ainda, de uma política que se proponha a elevar a qualidade de vida do povo dessa região.
Os partidários do SIM e do NÃO estão mais preocupados em conseguir um "lugar ao sol" junto aos seus pares do que com o estabelecimento de um novo paradigma para a região norte. Novos estados ou a manutenção do status quo representam muito mais interesses particulares em jogo do que um projeto com vistas num futuro melhor para esta região ou para o Brasil. Fica a pergunta: será que um dia o Pará se libertará de seu estigma de colônia dentro de seu próprio país? A resposta não parece ser tão simples quanto um SIM ou um NÃO em uma urna eletrônica.

Todas as charges aqui usadas são do cartunista Luiz Pinto que produz as charges para o JORNAL PESSOAL de Lucio Flávio, períodico de vanguarda há mais de 25 anos fazendo jornalismo pra valer.
http://www.lucioflaviopinto.com.br/

Get to know Glogster!

MARABÁ TOWN - A language acitvity using Glogster
Aprendizagem de Lingua: MARABÁ TOWN - A language acitvity using Glogster: A atividade consiste em dar aos alunos uma oportunidade de refletir sobre a cidade onde vivem através do uso da língua estrangeira.
O glogster é um site onde vc pode criar seus posters para divulgação de suas atividades, apresentações acadêmicas,etc.
A versão GLOGSTER.EDU é direcionada para professores e profissionais da área de educação em geral. Uma ótima ferramenta em versões FREE e paga e que podem ser muitos úteis no espaço escolar, particularmente, para professores de língua estrangeira. Acessem o site e crie o seu GLOG
http://www.glogster.com/

terça-feira, 1 de novembro de 2011

CONTEÚDO LIVRE: RUY CASTRO - Beiço no mundo

CONTEÚDO LIVRE: RUY CASTRO - Beiço no mundo: RIO DE JANEIRO - A velha Hollywood (1915-1965) nos ensinou que tudo nos EUA era maior, melhor, mais limpo, justo, ético, honesto, adulto,...
A velha Hollywood (1915-1965) nos ensinou que tudo nos EUA era maior, melhor, mais limpo, justo, ético, honesto, adulto, moderno, eficiente e perfeito do que nos outros países. Também pudera -os americanos eram o povo mais bonito, forte, corajoso, engenhoso e talentoso do mundo. Onde mais as pessoas saíam cantando e dançando pelas ruas com naturalidade e ao som de uma enorme orquestra invisível?
E quem cavalgava melhor e tinha os cavalos mais velozes? O cowboy americano. Não havia índio ou mexicano que o capturasse, exceto à traição, coisa que, aliás, eles viviam fazendo (e de que o cowboy americano era incapaz). O mesmo se aplicava ao soldado americano em relação aos alemães e japoneses -quem era o mais heroico, o mais desprendido, o mais inteligente? E a Marinha americana? Quem tinha porta-aviões mais imponentes? Quem usava camisas de manga curta mais brancas? E quem mais tinha milhares de marinheiros que sabiam sapatear?
Nos filmes, víamos maravilhas que faziam parte do dia a dia dos americanos e de ninguém mais: cerveja em lata, barbeadores elétricos, cortadores de grama, trevos rodoviários (filmados de avião), edifícios de 90 andares e naves que iam à Lua e voltavam. E quem seria mais poderoso que o governo dos EUA, capaz de movimentar estruturas gigantescas para plantar um exército inteiro em território inimigo a 15 mil km e resgatar um espião a minutos de ser descoberto?
Todas essas eram benesses do poder e da riqueza. De repente, fico sabendo que o dinheiro no caixa do Tesouro americano vai acabar na terça-feira e que a Casa Branca, com uma dívida de US$ 14,3 trilhões, ameaça dar o beiço no mundo.
Inacreditável. Como pode o governo americano quebrar? Se acontecer, quem vai pagar a conta da lavanderia que mantinha as camisas tão brancas?

CONTEÚDO LIVRE: RUY CASTRO - Beiço no mundo

CONTEÚDO LIVRE: RUY CASTRO - Beiço no mundo: RIO DE JANEIRO - A velha Hollywood (1915-1965) nos ensinou que tudo nos EUA era maior, melhor, mais limpo, justo, ético, honesto, adulto,...