quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Agronegócio: o discurso e a realidade.

O discurso de que o agronegócio é o modelo responsável por alimentar o país e empregar a força de trabalho camponesa cai por terra quando se olha os dados do meio rural brasileiro.

Segundo o censo rural do IBGE, a maior parte da produção para alimentação do povo brasileiro (70%) e emprego dos trabalhadores está na agricultura familiar, mesmo esta tendo menos crédito e poucas terras.

O agronegócio, por sua vez, concentra terras, recebe mais créditos e produz apenas 30% do que é consumido pela população. O resto da produção, em sua maioria commodities, é exportado.
— with Lozo Silva

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Agrotóxicos: o perigo eterno

A questão é a seguinte: o Brasil é o maior exportador de soja, de carnes, de açúcar, de suco de laranja e de café. Somos o número um no mundo. E temos uma estrutura de vigilância, de fiscalização e de estruturação de apoio aos setores de saúde quase zero. Por Najar Tubino

Não é uma metáfora, apenas o prazo de validade que estes produtos químicos usados intensivamente na produção de alimentos usufruem no Brasil, o maior consumidor mundial – um milhão de toneladas ou um bilhão de litros. Nos Estados Unidos o prazo é de 15 anos, na União Europeia 10 anos e no Uruguai quatro anos. Entre 2006 e 2011, época da implantação dos transgênicos o volume consumido aumentou 72% de 480,1 mil para 826,7 mil toneladas. A área de lavouras aumentou 19% de 68,8 milhões de hectares para 81,7 milhões. E o consumo médio por hectare passou de 7 kg em 2005 para 10,1kg em 2011. Neste mês de setembro o assunto voltou à tona. Em uma matéria na revista Galileu, a ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal), por intermédio do presidente, Eduardo Dahler, desqualificou o dossiê dos agrotóxicos lançado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Em uma nota, assinada em conjunto com o Instituto Nacional do Câncer e a Fundação Oswaldo Cruz, desqualificaram as declarações do representante das corporações que dominam o setor:

“Não aceitaremos pressões de setores interessados na venda de agrotóxicos e convocamos a sociedade brasileira a tomar conhecimento e se mobilizar frente a grave situação em que o país se encontra, de vulnerabilidade relacionada ao uso massivo de agrotóxicos. O compromisso dos que criticam as pesquisas é apenas o lucro na venda de venenos”.

Maior exportador e zero
O dossiê da Abrasco têm 472 páginas, dividida em três partes. A segunda foi lançada durante a Rio+20, e a última no final do ano passado. É um levantamento nacional baseado em várias pesquisas de profissionais das universidades federais do Ceará, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Goiás e de Pelotas, além dos pesquisadores da Fiocruz, do INCA e de outras entidades. Traz dezenas de relatos, inclusive uma série de cartas depoimentos de representantes de comunidades atingidas pelo impacto dos agrotóxicos, ou que estão cercadas por projetos de irrigação – caso do nordeste-, ou do Centro-oeste, caso do Mato Grosso. Faz uma análise detalhada dos efeitos de vários dos produtos usados pelo agronegócio no país.

A questão é a seguinte: o Brasil é o maior exportador de soja, de carnes, de açúcar, de suco de laranja e de café. Somos o número um no mundo. E temos uma estrutura de vigilância, de fiscalização e de estruturação de apoio aos setores de saúde quase zero. Exemplo: 46 técnicos para avaliar agrotóxicos contando ANVISA, Ministério da Agricultura e IBAMA. A Divisão de Agrotóxicos da EPA, Agência Ambiental dos EUA tem de 90 a 100 apenas no registro, na reavaliação de 180 a 240 e no impacto ambiental de 80 a 90 técnicos especializados. Neste quesito não podemos dizer que não há comparativo, porque há e muitos. Os profissionais da saúde não tem capacidade de diagnosticar as pessoas intoxicadas com agrotóxicos. Os registros, que são espontâneos no SINITOX – Sistema Nacional de Informação Toxicológica- na maioria dos casos só contabilizam os casos de intoxicação aguda e nunca as crônicas.

Tentativas de suicídio
Num trabalho de pós-graduação do curso de Geografia Humana, da USP, a pesquisadora Larissa Mies Bombard avaliou as estatísticas do SINITOX de 1999 a 2009 – 62 mil intoxicações por agrotóxicos. A Organização Mundial da Saúde calcula que para cada registro outros 50 não

ocorreram. Ou seja, poderiam ser 3,1 milhões de intoxicações. Também foram registradas 25.350 tentativas de suicídios, com 1.876 mortes. Cabe ressaltar que no nordeste, principalmente Ceará e Pernambuco, tentativas de suicídios abarcaram 75% dos casos notificados. Relação direta com as áreas de irrigação onde se cultivam frutas para exportação –melão, abacaxi e banana, manga, entre outras. Não há novidade neste quesito. Os agrotóxicos, venenos descobertos e testados na época da II Guerra Mundial tinham por objetivo principal matar pessoas. No caso dos organofosforados – produtos do fósforo-, testaram os gases Sarin, Soman e Tabun. Entre os sintomas mais conhecidos nos intoxicados é a depressão. O veneno atinge o sistema nervoso dos humanos, dos insetos e de qualquer outro ser vivo.

Quanto custa o registro de um ingrediente ativo no Brasil? Entre 50 e mil dólares. Nos Estados Unidos: US$630 mil. Para fazer reavaliação: US$150 mil nos Estados Unidos. No Brasil – isento. Os agrotóxicos também não pagam ICMS, IPI, PIS/PASEP e COFINS.

Tirar os agrotóxicos da ANVISA
Não foi exatamente o dossiê da Abrasco que causou problema às corporações. Desde a década passada que a ANVISA está fazendo a reavaliação de 14 princípios ativos dos agrotóxicos. Quatro já foram banidos, dois estão com indicativos. O último deles, o endossulfan, um inseticida usado em vários cultivos, teve seu prazo de validade encerrado em julho de 2013. A pressão aumentou contra os dirigentes da agência. A bancada ruralista inferniza os profissionais . Um deles, ex-gerente geral de Toxicologia, Luiz Cláudio Meirelles, acabou exonerado, depois que foi divulgado que sete agrotóxicos não haviam passado pelo sistema de avaliação, e obtiveram registro no Ministério da Agricultura diretamente.

A intenção da bancada ruralista e da senadora Kátia Abreu é tirar da ANVISA o registro dos agrotóxicos, levar para uma comissão do Ministério da Agricultura, que funcionaria nos moldes da CNTbio. Isso é um passaporte para a eternidade dos agrotóxicos no país. Uma das integrantes da vigilância tóxica da ANVISA, Letícia Rodrigues da Silva num trabalho sobre as controvérsias dos agrotóxicos aponta os limites do atual modelo de avaliação:

“Os estudos feitos pelas empresas não são de acesso público. Existe um conflito de interesse e ingerência do patrocinador nos estudos. Existe proteção de dados por 10 anos. Relação privilegiada entre governo e empresas.”

E ressaltou a estratégia das empresas para combater os estudos dos órgãos reguladores. Começa pela desqualificação dos estudos que apontam riscos dos agrotóxicos. Logo em seguida, a contratação de pareceristas e jornalistas, para combater do ponto de vista técnico, questionam protocolos de estudos, significância e exposição. Depois captura e desqualificação dos autores e instituições que apontam os riscos. Terceiro passo: a busca de aliados políticos e a pressão aos órgãos de governo. Última etapa, a judicialização.

Irregularidades dentro das fábricas
Letícia da Silva também apontou alguns resultados das fiscalizações que a ANVISA realiza diretamente nas fábricas das empresas. Em 2010, houve interdição de 800 mil litros na BASF, por falta de rastreabilidade nas soluções utilizadas e componentes vencidos. Na fábrica da Dow encontraram embalagens vazando, problema em rótulos, com data de fabricação

adulterada, alterações em formulações. Na fábrica da FMC interditaram 140 mil litros com produtos vencidos e com etiquetas adulteradas. Acrescentando a isso, casos de irregularidades nas condições de trabalho e saúde dos funcionários, problemas ambientais, do consumidor.

No Brasil, os agrotóxicos ilegais, que entram por contrabando ou com origem desconhecida, somam 9% do mercado, um dado do Sindicato da Indústria de Produtos da Defesa Vegetal (SINDAG). Em dinheiro representa US$540 milhões e seria a quinta empresa do setor. O Sindicato dos Auditores da Receita Federal tem divulgado um dado constantemente – 30% dos agrotóxicos importados e eles somaram 57% do consumo em 2012, não tem origem conhecida.

São químicos com alto impacto na vida da população e no ambiente. Um estudo da Embrapa sobre a retenção dos agrotóxicos nas plantas indica o seguinte: 32% do que foi aplicado fica retido na planta, 19% o vento carrega para a vizinhança e 49% permanece no solo. Será levado pela chuva, penetrará no lençol freático, viajará por córregos, rios, até chegar às estações de tratamento de água. O índice de potabilidade da água, a percentagem de produtos aceitáveis na água potável mudou da década de 1990 para 2013. Naquela época era permitida a presença de 13 tipos de agrotóxicos e 11 produtos de química inorgânica (metais pesados). Em 2004, aumentou para 22 tipos de agrotóxicos e 13 produtos inorgânicos. A portaria de potabilidade da água n º2.914/2011 permite a presença de 27 tipos de agrotóxicos e 15 produtos químicos inorgânicos.

Pressão de todo tipo
No Brasil existem 434 ingredientes ativos e 2.400 formulações de agrotóxicos registrados nos ministérios da Saúde, Agricultura e Meio Ambiente. Dos 50 mais utilizados nas lavouras 22 são proibidos na União Europeia. No segmento das hortaliças, que envolve uma área de 800 mil hectares são destinados 20% dos ingredientes ativos dos fungicidas. Entre 2006-2011 o volume de fungicidas aumentou de 56 mil toneladas para 174 mil toneladas, a maior parte para combater a ferrugem da soja. O volume de inseticidas, no mesmo período, aumentou de 93,1 para 170,9 mil toneladas e os herbicidas, consequência dos transgênicos, de 279,2 mil toneladas para 403,6 mil toneladas.

“No Brasil, o suporte laboratorial e tecnológico, seja para monitorar resíduos nos alimentos e no meio ambiente, seja para monitoramente biológico, dos trabalhadores expostos, permanece bastante limitado há décadas, apesar da necessidade crescente.” Um trecho do dossiê da Abrasco, que segue:

“O pacto político/econômico em que predominam os interesses da bancada ruralista para uma maior liberalização do uso dos agrotóxicos no âmbito do Legislativo mais de 40 projetos de lei nessa direção; no Executivo pressão sobre os órgãos reguladores como a ANVISA; no Judiciário a impunidade nas mortes no campo; na pesquisa mais de 95% dos recursos da Embrapa voltados ao agronegócio e na mídia com os canais especializados na televisão”.

Campanha Permanente Contra
A indústria dos agrotóxicos com todo o seu poder deve estar reavaliando suas estratégias. O combate direto cada vez mais expõe o perigo da questão. Não adianta arregimentar

profissionais para desmentir, denunciar, produzir outras versões. Agora as corporações, pela primeira vez na história, enfrentam uma Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e em Defesa da Vida, que reúne mais de 50 entidades. Além de um Fórum Permanente contra os impactos dos Agrotóxicos, envolvendo 16 instituições, entre elas o Ministério Público do Trabalho. Em 2013, o MPT conseguiu uma grande vitória, ao definir um acordo no Tribunal Superior do Trabalho, para indenizar mais de mil trabalhadores da antiga fábrica de agrotóxicos organoclorados da Schell, em Paulínia (SP), funcionou até 2002. No total, entre ações coletiva e individual, R$370 milhões, divididos entre a Schell e a BASF, última dona da fábrica. Duas campanhas organizadas e permanentes, além do documentário rodando na internet “O Veneno tá na mesa”, de Sílvio Tendler.

Isenção Ideológica
Mesmo assim, a ANDEF levou a Lucas do Rio Verde (MT), onde um avião agrícola pulverizou áreas urbanas, atingindo 65 chácaras e 180 canteiros um professor de química da USP para contestar o estudo em leite materno de 62 nutrizes, que detectou várias substâncias tóxicas. Erro de metodologia.Outro da Unicamp, também do regimento da ANDEF, diz que vai contestar o dossiê da Abrasco, que analisou 4.896 currículos, para identificar os pesquisadores que trabalham com a temática dos agrotóxicos. Apenas 10% estudam os aspectos de toxicidade aguda ou crônica dos químicos.

“-Esse mapeamento aponta que os estudos não têm abordado a temática da saúde e ambiente, que deveria ser de grande interesse, tanto dos pesquisadores, das suas instituições e dos órgãos de fomento, no país que já há alguns anos tem se colocado no topo do consumo mundial de agrotóxicos. As indústrias de agrotóxicos investem em mecanismos de cooptação de pesquisadores para produção de evidências científicas para a legitimação do uso de seus produtos, com o fomento de recursos financeiros para pesquisas”.

A maior acusação do presidente da ANDEF, Eduardo Dahler contra o dossiê, é “que esses pesquisadores mostraram que há conduta ideológica na Fiocruz, não se pode acreditar nos dados deles”. Na época da ditadura, quando criaram o sistema de crédito rural e vincularam o dinheiro ao uso de um pacote de químicos, as mesmas corporações mostraram a sua isenção ideológica. Contrataram o general Golbery do Couto e Silva, no caso da Dow Química, e o general Ernesto Geisel, após deixar a presidência, assumiu a Norquisa.

O veneno tá na mesa, também está no sangue, na gordura dos corpos, no sistema nervoso de milhares de pessoas, só ainda não entrou na agenda urbana do país. Os agrotóxicos levam uma vantagem, não são visíveis. A pessoa come, ingere minúsculas doses, que vão se acumulando por anos, até resultar numa doença grave. Os maiores registros de diversos tipos de câncer. É claro, nunca há o vínculo com o veneno. Nunca haverá, porque o assunto não está no currículo dos profissionais de saúde, nem das ciências agrárias. Os ingleses definem os agrotóxicos, que no Brasil está na lei 7.802/1989, como pesticidas, significa o que acaba com as pestes. Provavelmente, na história futura da civilização industrial, vai ser definido exatamente quem é a peste: se os insetos e as plantas chamadas de invasoras ou os venenos.

domingo, 22 de setembro de 2013

Leon Trotsky e a cultura.

Este texto foi publicado pela primeira vez em 1926-27

"A cultura é um fenômeno social. Precisamente por isso a linguagem, como órgão de intercomunicação entre os homens, é um instrumento da maior importância. A cultura da própria linguagem é a condição mais importante para o desenvolvimento de todos os ramos da cultura, particularmente a ciência e a arte. Da mesma forma que a técnica não está satisfeita com os velhos aparatos de medição e cria outros novos, micrômetros, voltímetros..., tratando de obter e obtendo maior precisão, assim em matéria de linguagem, da capacidade para escolher as palavras adequadas e combiná-las da forma adequada, se requer um trabalho sistemático e tenaz para conseguir o maior grau de precisão, claridade e intensidade. A base deste trabalho deve ser a luta contra o analfabetismo, do semianalfabetíssimo e do alfabetismo rudimentar. O próximo passo será a assimilação da literatura clássica russa."


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A saúde como mercadoria: A face da hostilidade burguesa e racista é quem rejeita os médicos cubanos.


O racismo tem uma origem histórica e reporta à defesa de uma ideologia capitalista reacionária que cumpre uma função definida pelo sistema econômico. Nos tortuosos caminhos travados pela burguesia em busca do acúmulo de capital, o racismo criou raízes e se moldou para servir ao domínio e exploração da maioria.
A hostilidade com a qual os médicos cubanos foram recebidos por grupos de médicos brasileiros, os quais representam uma fração da burguesia, revela que racismo e luta de classes andam lado a lado. Afinal todas as manifestações de racismo e xenofobia têm uma razão objetiva, como a flagrante declaração da jornalista Micheline Borges do Rio Grande do Norte[1], que causou revolta nas redes sociais ao publicar um depoimento dizendo: “essas médicas cubanas têm uma cara de empregada doméstica. Médico, geralmente, tem postura e se impõe a partir da aparência”. O racismo tem uma origem histórica e reporta à defesa de uma ideologia capitalista reacionária que cumpre uma função definida pelo sistema econômico. Nos tortuosos caminhos travados pela burguesia em busca do acúmulo de capital, o racismo criou raízes e se moldou para servir ao domínio e exploração da maioria.
Em 1939, o grupo de médicos “Aliança Eugênica”, que representava os interesses da classe dominante e que, detinha o controle de muitos conselhos sanitários, pregava que as endemias brasileiras resultavam da qualidade da “raça brasileira” dizendo que o “tipo nacional” vindo da mistura de brancos, negros e índios estaria condenado à preguiça e à debilidade física e mental. No panfleto de difusão do grupo, o médico João Batista de Lacerda (Diretor do Museu Nacional do Brasil) afirmava em alto e ‘bom’ tom:
Vemos o papel importantíssimo do elemento imigratório branco, influindo poderosamente na redução de negros e mestiços de nossa população. Este fator de arianização não concorre somente para o aumento numérico do contingente branco puro, mas não cruzando com os mestiços concorre para a limpeza da raça com a diluição do coeficiente do sangue inferior e, portanto, para a queda de muitas doenças que nos assaltam”.[2]
O racismo se instrumentalizava na precária saúde pública brasileira para que os pouquíssimos profissionais atendessem exclusivamente os mais ricos. Enquanto isso, a febre amarela matava mais de 10 mil por ano (1850-1859) e a varíola mais de 5 mil (1870-1899), restando somente à população pobre recorrer aos curandeiros que atendiam nos vilarejos. Enquanto as verbas destinadas para saúde na década de 50 não ultrapassavam 1,2% do PIB, o índice de mortalidade geral chegava a 13,2%. O índice crescente de mortalidade dos trabalhadores tornou-se um problema para a burguesia que perdia mão-de-obra barata, prejudicando a economia capitalista.
Além disso, era preciso ‘mascarar’ a imagem do Brasil, que estava taxado como ‘região bárbara’ e sintonizá-lo com a ‘civilização’ dos países desenvolvidos aos moldes do capitalismo. Portanto, o sistema econômico exigia uma política mínima de saúde pública para que a massa de trabalhadores, que expressava a própria fonte geradora de riqueza do capitalismo, tivesse as condições de sobrevivência para dispor à própria força de trabalho e garantir assim, a expansão da produção que enriquecia a burguesia. As míseras políticas públicas para erradicação das doenças que assolavam a população pobre foram implantadas prioritariamente, nas regiões metropolitanas onde estavam instalados os grandes portos que movimentavam as exportações do país e concentravam maior número de trabalhadores, como Rio de Janeiro, Santos, Recife, Salvador e outros.  Estas políticas, dialeticamente, vieram também como resultado das lutas dos trabalhadores que combatiam para que não morressem extenuados pelo trabalho, pela fome, miséria e doenças, muitas das quais relacionadas à falta de saneamento básico. Ao mesmo tempo, a especulação imobiliária necessitava de melhorias urbanas para lucrar e acumular, expandindo-se para áreas alagadiças e insalubres próximas aos centros das metrópoles nascentes.
A partir das necessidades e exigências do sistema capitalista que crescia com a exploração da classe trabalhadora, o Estado foi obrigado a implantar o sistema de saúde pública no Brasil.
Na década de 40, os proprietários de casas de saúde pressionavam o governo para interromper os planos de construção de hospitais públicos, exigindo doações e empréstimos a juros baixos para criação de grandes redes de clínicas de hospitais privados. E o estado, evidentemente, atendeu ao interesse privado destinando verbas oficiais que sustentavam inúmeros monopólios hospitalares (como no Maranhão em 1960, onde uma única família detinha oito hospitais obtidos com empréstimos federais).
Depois, o governo, mesmo com a implantação do SUS, não conseguiu assegurar melhores condições de vida à população, tampouco conseguiu universalizar o acesso à saúde gratuita e de qualidade, o que se tornou letra morta na Constituição Federal de 1988.
A saúde é uma mercadoria rentável, e diante da previsão de morte, milhares de trabalhadores pagam caríssimo para prorrogar um último suspiro. 
Em 1980, a indústria farmacêutica somava 379 sedes de laboratórios no país garantindo lucro de 79,3% na venda dos medicamentos, enquanto no exterior a média era de 65 sedes com lucro de 20,7%. Entre 1965 e 1975, pelo menos 25 companhias brasileiras foram compradas por grupos com sede nos Estados Unidos e na Europa.
Para ‘maquiar’ a situação, em 1971 o governo brasileiro criou a Central de Medicamentos (Ceme) para produzir remédios essenciais à população, embora ciente de que seria impossível quebrar o domínio do mercado pelos grandes grupos farmacêuticos multinacionais. A produção de drogas para assegurar o lucro exorbitante, já em 1976, contava com cerca de cinco mil remédios considerados supérfluos, e os preços subiam sem qualquer controle estatal.
O Estado burguês não consegue ‘domar’ o monstro que criou
 A incapacidade histórica do sistema capitalista em garantir saúde pública, gratuita e de qualidade para todos os brasileiros, impõe que a classe trabalhadora deva entrar em cena para acabar com este sistema pela via revolucionária.
O racismo que rejeita profissionais cubanos por retratarem a aparência de milhares de trabalhadores negros, revela sua face capitalista. Afinal, não é somente a cor da pele dos médicos cubanos que incomoda os capitalistas. É a medicina preventiva que o Estado brasileiro abandonou para que as indústrias farmacêuticas lucrem exaustivamente; é a intocável formação acadêmica elitizada que afunila para que filhos de trabalhadores e 'empregadas domésticas' tomem outros rumos; é a medicina fragmentada que atende à iniciativa privada e sustenta o corporativismo de grupos que representam a classe dominante. É o que acontece quando a saúde vira mercadoria. A xenofobia da burguesia é contra o socialismo e a tudo o que é mais humano e agora se revela na repulsa aos médicos cubanos que tentarão remediar e saúde brasileira ‘escravizada’ pelo cruel capitalismo, é certo. A cura para a saúde pública no Brasil não virá através de ‘programas’ governamentais que não imponham qualquer risco às verdadeiras estruturas, pois as raízes de todas as mazelas estão sustentadas no capitalismo.
*Vera é da Coordenação Nacional do Movimento Negro Socialista

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Semana Acadêmica de Estudos de Língua Inglesa acontece na UFAC.

A semana visa discutir o papel do ensino de língua inglesa no contexto amazônida em particular na região ocidental com a proximidade da fronteira do Brasil com países como Peru e Bolívia de língua espanhola. Quais são os desafios do professor de língua inglesa diante desse contexto? São questões como esta que o evento pretende abordar e discutir com professores, estudantes e a comunidade em geral.


quinta-feira, 5 de setembro de 2013