domingo, 26 de fevereiro de 2012

Festa estadunidense, não brasileira.


Quando é que a gente vai aprender? Todo ano é a mesma história, a mídia oficial brasileira, particularmente a televisiva, se comporta como porta-voz do cinema americano no Brasil. Obviamente, é inquestionável o poder da indústria de cinema norte-americana , eu mesmo cresci assistindo aos filmes norte-americanos como se eles fossem o único cinema no mundo. Aliás como se fosse cinema, o que em muitos caso não é; mas essa é um outra discussão.
O problema reside no fato de estarmos domesticados e colonizados por uma lógica de mercado, nos tornamos consumidores e fãs cativos da festa dos outros. Há produções cinematográficas e prêmios internacionais de cinema (de verdade) sendo feitas em várias partes do mundo, apesar disso, nos acostumamos a enxergar o cinema estadunidense como a única referência. Os canais de TV brasileiros (uma eterna cópia da programação USA) tem grande IRresponsabilidade nessa questão, já que foram principalmente esses canais de TV que "domesticaram" nossas mentes a entender cinema da forma que entendemos de modo geral. Os contratos de décadas da TV Globo, e também do SBT por um tempo, com os estúdios hollywoodianos, nos ensinaram muito bem a curtir os ETs e os dinossauros do Spielberg.
O resultado desse "brainwash" está aí todo ano, nós fãs de pseudo-cinema, corremos pra frente da TV na expectativa de que os americanos "gostem" dos nossos filmes e assim nós possamos nos orgulhar do cinema brasileiro porque os americanos nos premiaram com um oscar de filme estrangeiro. O filme RIO é a "bola da vez", mesmo assim já vi reportagens televisivas lamentando o fato de Tropa de Elite 2 não ter sido indicado. A maior prova de que o Oscar não celebra o cinema internacional é o prêmio de FILME ESTRANGEIRO, ou seja, filme NÃO americano, ou filme não-anglófono. Numa premiação internacional, de fato não haveria necessidade de existir tal prêmio.
Ser reconhecido internacionalmente é ótimo, mas só vale a pena se for o reconhecimento dos USA? Será que um dia teremos força e vontade de nos libertar dessa lógica burra?
Para terminar com a clássica frase do evento estadunidense: TONIGHT, THE OSCAR GOES TO HELL!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Pra não dizer que não falei do carnaval...

Brincadeira com status de ensino de língua. 
 Um músico chamado Leandrade, que também dá aulas de inglês na escola de idiomas BRASAS/RJ, faz versões das famosas marchinhas de carnaval do Brasil na língua inglesa. Suas versões fazem sucesso na net. O video aqui postado faz muito sucesso desde o ano passado. Tudo muito bem bolado com letras, rimas e escolha de vocabulário adaptado ao inglês, aliás o filme também está bem produzido.
No entanto, fica a pergunta: qual é a utilidade desse trabalho? Pra que serve? Qual a relevância de se ter as marchinhas de carnaval traduzidas e cantadas em inglês? Por favor, se alguém tiver alguma idéia let me know.  O que fica é pura brincadeira e a habilidade que o Leo (músico) tem pelo fato de ser usuário fluente da lingua inglesa.
Já sei, alguém vai dizer: é muito bom pra quem tá aprendendo inglês. Então surge outra pergunta: em que momento ou contexto essas músicas serão cantadas e tocadas assim? Resposta: só servem pra sala de aula de inglês desse músico. Não tem relevância alguma fora desse contexto. Essas versões criam um espaço alheio de tudo, alienante, se cria uma "bolha" que só participa quem é brasileiro e está aprendendo, se é que vai aprender, inglês assim. Só tem significado para o "seleto" grupo de alunos desse professor que vão se ver cantando músicas da cultura brasileira só entre eles - porque para outros brasileiros e estrangeiros a música traduzida perde seu valor e real significado. Para os brasileiros que gostam de inglês pode até ficar "engraçadinho", mas o que dizer dos estrangeiros anglófonos que vão se deparar com uma música na língua deles mas que não tem significado nenhum, pois as piadas cantadas nas letras das marchinhas só tem relevância ou graça para brasileiros que obviamente (ou provavelmente) reconhecem as originais em português.
O  trabalho do Leo como músico não se questiona aqui, mas a sua atividade com a língua inglesa não passa de uma brincadeira de carnaval ou piada, nada mais do que isso.



Leitura Obrigatória para professores de língua Inglesa.

O livro de Robert Philipson lançado em 1992 é leitura obrigatória para professores de inglês nos mais variados contextos. A partir de uma visão crítica do papel hegemônico da lingua inglesa no mundo, Philipson nos traz um panorama geral do percurso que a língua inglesa fez para alcançar o patamar de língua mundial. As políticas das grandes potências mundiais para o estabelecimento e manutenção de uma cultura de se aprender inglês como estratégia de hegemonia política mundo afora. Philipson diz: "The British Empire has given way to the empire of English"(O império britânico abriu caminho para o império da língua inglesa)Trad.minha.
Entre as propostas de Philipson está a de se estabelecerem novos paradigmas para a relação que o ensino de lingua inglesa (ELT) tem com a sociedade. A responsabilidade dos educadores de língua com as questões sociais, o papel social do professor de língua e os riscos de uma prática alheia de todas essas questões. O livro pode ser encontrado na biblioteca do campus I (Ufpa/Marabá) e para compra deixo aqui um link:amazon.com/Linguistic-Imperialism

domingo, 19 de fevereiro de 2012

“Perdendo o mundo”: o declínio dos EUA em perspectiva


O declínio dos Estados Unidos entrou, há algum tempo, em uma nova fase: a do declínio autoinfligido. Desde os anos 70 tem havido mudanças significativas na economia dos EUA, à medida que estrategistas, estatais e do setor privado, passaram a conduzi-la para a financeirização e à exportação de plantas industriais. Essas decisões deram início ao círculo vicioso no qual a riqueza e o poder político se tornaram altamente concentrados, os salários dos trabalhadores ficaram estagnados, a carga de trabalho aumentou e o endividamento das famílias também. O artigo é de Noam Chomsky.

Solidariedade à Lúcio Flávio Pinto

Repostagem apartir de blog ribamarribeirojunior.blogspot

Lúcio Flávio PintoComeçou essa semana na internet um movimento em solidariedade ao jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, condenado por “ofender moralmente” o falecido empresário Cecílio do Rego Almeida, dono da Construtora C. R. Almeida e acusado de apropriação ilegal de terras públicas na Amazônia.

O jornalista, que é editor do independente Jornal Pessoal, se referiu ao empresário como “pirata fundiário” em sua publicação. A alcunha foi usada em reportagem sobre o uso de registros imobiliários falsos na tentativa de regularizar a posse de cinco milhões de hectares na região do vale do rio Xingu. Outras duas pessoas também haviam sido denunciadas por Cecílio do Rego Almeida, mas foram absolvidas pela justiça paulista.

A sentença que condena Lúcio Flávio Pinto a pagar indenização de R$ 8 mil à família do grileiro foi expedida pelo Tribunal de Justiça do Pará. Um recurso especial foi submetido ao Superior Tribunal de Justiça, mas acabou negado em fevereiro de 2012 por ausência de documentos exigidos pelo rito do órgão.

O valor a ser pago pelo jornalista à família do grileiro ainda será reajustado e fixado pela justiça paraense. Além da indenização, Lúcio Flávio Pinto também perde a condição de réu primário, o que o expõe à execução de outras ações, entre as 33 que lhe foram impostas nos últimos 20 anos.

“Não pretendo o papel de herói (pobre do país que precisa dele, disse Bertolt Brecht pela boca de Galileu Galilei). Sou apenas um jornalista. Por isso, preciso, mais do que nunca, do apoio das pessoas de bem. Primeiro para divulgar essas iniquidades, que cerceiam o livre direito de informar e ser informado, facilitando o trabalho dos que manipulam a opinião pública conforme seus interesses escusos. Em segundo lugar, para arcar com o custo da indenização. Infelizmente, no Pará, chamar o grileiro de grileiro é crime passível de punição”, afirmou o jornalista em nota divulgada em busca de apoio dos leitores.

Apoio financeiro – Para ajudar o jornalista a cumprir a decisão judicial foi criado um fundo para a arrecadação de doações. Os recursos podem ser enviados ao Banco do Brasil, agência 3024-4, conta-poupança 22.108-2 em nome de Pedro Carlos de Faria Pinto, irmão do jornalista - fonte ABRAJI

Calendar for 2012/2 English Classes.


Hello dear students!
Check the calendar for our classes coming soon. Click below:
Our Schedule is here.
We had to make some changes due to the fact our professor Gizelia Freitas moved to another campus.
Please check the schedule. We're doing everything is possible in order to have a very good term starting soon.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Reflections on the Role of Native Speakers of English

What english do I speak?
In the last APIRS convention, the linguist Kanavillil Rajagopalan discussed the position of English as the current international language, explaining the kinds of English speakers in the world and emphasizing the role of speakers of English as a foreign language. Rajagopalan says that we should focus on teaching World English[1], which he defines as a linguistic phenomenon of the globalized world. However, some teachers may have doubts when approaching this issue in their classrooms, and one of these worries is related to the variety of English we use in class. 
We know that nowadays English is spoken as a native, a second and a foreign language in almost every country of the world. Thus, considering that English is the global language, which variety of English should we teach? This was, in fact, a question that someone asked Rajagopalan after his speech. He has been saying both in his articles and in his speeches that we should not teach British English, or American English, or Canadian English, for instance. We should keep in mind that we should teach World English, which has no native speaker. This means that speaking English as a native speaker should not be the focus of English teaching, as it does not make sense in a globalized world any longer. Rajagopalan proposes that English does not belong to its native speakers anymore, but “belongs to everyone who speaks it” (2004, p. 111).
Authors like Graddol (2000 and 2006), Crystal (1997) and Jenkins (2003) agree that the role of the speakers of English as a foreign language is increasing as more people learn the language around the world. It is a fact that we teachers like the idea of speaking native-like, mostly because many theories of second/foreign language acquisition describe it as the stage at which a learner should arrive.  However, according to Rajagopalan, this is not the idea that we should give our students. He says that we need to emphasize to them that the native variety of English is not the best one, since we can all speak World English, as long as we can communicate. Considering the native variety of English as the only “correct” one, and native speakers as “authorities” who know their language perfectly well may increase students’ sense of inferiority towards this ideal way of speaking (Rajagopalan 1996, p. 226).
One of the main reasons why theories of second/foreign language acquisition emphasize the native varieties of the language is based on the belief that people who learn English as a second or foreign language do it just to communicate with other native speakers. However, research shows us that this is not the case, as English is widely used as a contact language among people who speak different languages (Graddol, 2006). Thus, why should we focus on only one variety of the language? This seems not to make sense, but we see through History that there have always been people willing to “save” the language, which is not an accomplishable thing.
Therefore, as Rajagopalan says, we need to be aware of the fact that language is vigorous and dynamic, and it is never going to stay the same. Every language and dialect should be appreciated for what it represents and what it means to those who speak it; none are any better or more valuable, at least linguistically. Thus, it is not our intention to underestimate the value of native speakers of English, but to value all other varieties of the language, which are the result of the role of English as the global language. 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O grileiro vencerá?

Lúcio Flávio Pinto em 14/02/2012 na edição 681 postado em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed681_o_grileiro_vencera
Como já é do conhecimento público, em 1999 escrevi uma matéria no meu Jornal Pessoal denunciando a grilagem de terras praticada pelo empresário Cecílio do Rego Almeida, dono da Construtora C. R. Almeida, uma das maiores empreiteiras do país, com sede em Curitiba, no Paraná. Embora nascido em Óbidos, no Pará, Cecílio se estabeleceu 40 anos antes no Paraná. Fez fortuna com o uso de métodos truculentos. Nada era obstáculo para a sua vontade.
Sem qualquer inibição, ele recorreu a vários ardis para se apropriar de quase cinco milhões de hectares de terras no rico vale do rio Xingu, no Pará, onde ainda subsiste a maior floresta nativa do Estado, na margem direita do rio Amazonas, além de minérios e outros recursos naturais. Onde também está sendo construída a hidrelétrica de Belo Monte, para ser a maior do país e a terceira do mundo.
Os 5 milhões de hectares já constituem território bastante para abrigar um país, mas a ambição podia levar o empresário a se apossar de área ainda maior, de 7 milhões de hectares, o equivalente a 8% de todo o Pará, o segundo maior Estado da federação brasileira. Se fosse um Estado, a “Ceciliolândia” seria o 21º maior do Brasil.
Mala suerte
Em 1996, na condição de cidadão, atendi a um chamado do advogado Carlos Lamarão Corrêa, diretor do Departamento Jurídico do Iterpa (Instituto de Terras do Pará), e o ajudei a preparar uma ação de anulação e cancelamento dos registros das terras usurpadas por C. R. Almeida, com a cumplicidade da titular do cartório de registro de imóveis de Altamira e a ajuda de advogados inescrupulosos. A ação foi recebida pelo juiz da comarca, Torquato de Alencar, e feita a averbação da advertência de que aquelas terras não podiam ser comercializadas, por estarem sub-judice, passíveis de nulidade.
Os herdeiros do grileiro podem continuar na posse e no usufruto da pilhagem, apesar da decisão, porque a grilagem recebeu decisão favorável dos desembargadores João Alberto Paiva e Maria do Céu Cabral Duarte, do Tribunal de Justiça do Estado. Deve-se salientar que essas foram as únicas decisões favoráveis ao grileiro nas instâncias oficiais, que reformaram a deliberação do juiz de Altamira.
Com o acúmulo de informações sobre o estelionato fundiário, os órgãos públicos ligados à questão foram se manifestando e tomando iniciativas para evitar que o golpe se consumasse. A Polícia Federal comprovou a fraude e só não prendeu o empresário porque ele já tinha mais de 70 anos. O próprio poder judiciário estadual, que perdeu a jurisdição sobre o caso, deslocado para a competência da justiça federal, a partir daí, impulsionado pelo Ministério Público Federal, tomando rumo contrário ao pretendido pelo grileiro, interveio no cartório Moreira, de Altamira, e demitiu todos os serventuários que ali trabalhavam, inclusive a escrivã titular, Eugênia de Freitas, por justa causa.
Carlos Lamarão, um repórter da revista Veja (que chegou a ser mantido em cárcere privado pelo empresário e ameaçado fisicamente) e o vereador Eduardo Modesto, de Altamira, processados na comarca de São Paulo por Cecílio Almeida, foram absolvidos pela justiça paulistana. O juiz observou que essas pessoas, ao invés de serem punidas, mereciam era homenagens por estarem defendendo o patrimônio público, ameaçado de passar ilicitamente para as mãos de um particular.
De toda história, eu acabei sendo o único punido. A ação do empreiteiro contra mim, como as demais, foi proposta no foro de São Paulo. Seus advogados sabiam muito bem que a sede da ação era Belém, onde o Jornal Pessoal circula. Eles queriam deslocar a causa por saberem das minhas dificuldades para manter um representante na capital paulista. A juíza que recebeu o processo, a meu pedido, desaforou a ação para Belém, como tinha que ser. Hoje, revendo o que passei nestes 11 anos de jurisdição da justiça do Pará, tenho que lamentar a mala suerte de não ter ficado mesmo em São Paulo, com todas as dificuldades que tivesse para acompanhar a tramitação do feito.
Denúncias ignoradas
A justiça de São Paulo foi muito mais atenta à defesa da verdade e da integridade de um bem público ameaçada por um autêntico “pirata fundiário”, do que a justiça do Pará, formada por homens públicos que deviam zelar pela integridade do patrimônio do Estado contra os aventureiros inescrupulosos e vorazes. Esta expressão, “pirata fundiário”, C. R. Almeida considerou ofensiva à sua dignidade moral e as duas instâncias da justiça paraense sacramentaram como crime, passível de indenização, conforme pediu o controverso empreiteiro.
Mesmo tendo provado tudo que afirmei na primeira matéria e nas que a seguiram, diante da gravidade do tema, fui condenado, graças a outro ardil, montado para que um juiz substituto, em interinidade de fim de semana, pela ausência circunstancial da titular da 1ª Vara Cível de Belém, sem as condições processuais para sentenciar uma ação de 400 páginas, me condenasse a pagar ao grileiro indenização de 8 mil reais (em valores de então, a serem dramaticamente majorados até a execução da sentença), por ofensa moral.
A sentença foi confirmada pelo tribunal, embora a ação tenha sido abandonada desde que Cecílio do Rego Almeida morreu, em agosto de 2008; mesmo que seus sucessores ou herdeiros não se tenham habilitado; mesmo que o advogado, que continuou a atuar nos autos, não dispusesse de um novo contrato para legalizar sua função; mesmo que o tribunal, várias vezes alertado por mim sobre a deserção, tenha ignorado minhas petições; mesmo que, obrigado a extinguir a minha punibilidade, arquivando o processo, haja finalmente aberto prazo para a habilitação da parte ativa, que ganhou novo prazo depois de perder o primeiro; mesmo que a relatora, confrontada com a arguição da sua suspeição, que suscitei, diante de sua gravosa parcialidade, tenha simplesmente dado um “embargo de gaveta” ao pedido, que lhe incumbia responder de imediato, aceitando-o ou o rejeitando, suspendendo o processo e afastando-se da causa; mesmo que tudo que aleguei ou requeri tenha sido negado, para, ao final, a condenação ser confirmada, num escabroso crime político perpetrado pela maioria dos desembargadores do Tribunal de Justiça do Pará que atuaram no meu caso, certamente inconformados com críticas e denúncias que tenho feito sobre o TJE nos últimos anos, nenhuma delas desmentida, a maioria delas também completamente ignorada pelos magistrados citados nos artigos. Ao invés de cumprir as obrigações de sua função pública, eles preferem apostar na omissão e na desmemoria da população. E no acerto de contas com o jornalista incômodo.
Debate público
Depois de enfrentar todas as dificuldades possíveis, meus recursos finalmente subiram a Brasília em dezembro do ano passado. O recurso especial seguiu para o presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Ari Pargendler, graças ao agravo de instrumento que impetrei (o Tribunal do Pará rejeitou o primeiro agravo; sobre o segundo já nada mais podia fazer).
Mas o presidente do STJ, em despacho deste 7/2, disponibilizado no dia 10/2 e a ser publicado no Diário da Justiça do dia 13/2, negou seguimento ao recurso especial. Alegou erros formais na formação do agravo: “falta cópia do inteiro teor do acórdão recorrido, do inteiro teor do acórdão proferido nos embargos de declaração e do comprovante do pagamento das custas do recurso especial e do porte de retorno e remessa dos autos”.
Recentemente, a justiça brasileira impôs novas regras para o recebimento de agravos, exigindo dos recorrentes muita atenção na formação do instrumento, tantos são os documentos cobrados e as suas características. Podem funcionar como uma armadilha fatal, quando não são atendidas as normas formais do preparo.
A falta de todos os documentos apontada pelo presidente do STJ me causou enorme surpresa. Participei pessoalmente da reunião dos documentos e do pagamento das despesas necessárias, junto com minha advogada, que é também minha prima e atua na questão gratuitamente (ou pró-bono, como preferem os profissionais). Não tenho dinheiro para sustentar uma representação desse porte. Muito menos para arcar com a indenização que me foi imputada, mais uma, na sucessão de processos abertos contra mim pelos que, sendo poderosos, pretendem me calar, por incomodá-los ou prejudicar seus interesses, frequentemente alimentados pelo saque ao patrimônio público.
Desde 1992 já fui processado 33 vezes. Nenhum dos autores dessas ações teve interesse em me mandar uma carta, no exercício de seu legítimo direito de defesa. O Jornal Pessoal publica todas as cartas que lhe são enviadas, mesmo as ofensivas, na íntegra. Também não publicaram matérias contestando as minhas ou, por qualquer via, estabelecendo um debate público, por serem públicos todos os temas por mim abordados. Foram diretamente à justiça, certos de contarem com a cumplicidade daquele tipo de toga que a valente ministra Eliana Calmon, Corregedora Nacional de Justiça, disse esconderem bandidos, para me atar a essa rocha de suplícios, que, às vezes, me faz sentir no papel de um Prometeu amazônico.
Momento difícil
Não por coincidência, fui processado pelos desembargadores João Alberto Paiva e Maria do Céu Duarte, o primeiro tendo como seu advogado um ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, à frente de uma das mais conceituadas bancas jurídicas do Distrito Federal. O ex-ministro José Eduardo Alckmin, que também advogava para a C. R. Almeida, veio a Belém para participar de uma audiência que durou cinco minutos. Mas impressionou pela sua presença.
O madeireiro Wandeir dos Reis Costa também me processou. Ele funcionou como fiel depositário de milhares de árvores extraídas ilegalmente da Terra do Meio, que o Ibama apreendeu em Altamira. Embora se declarasse pobre, ele se ofereceu para serrar, embalar e estocar a madeira enquanto não fosse decidido o seu destino. Destino, aliás, antecipado pelo extravio de toras mantidas em confinamento no próprio rio Xingu. Uma sórdida história de mais um ato de pirataria aos recursos naturais da Amazônia, bem disfarçado.
Apesar de todas essas ações e do martírio que elas criaram na minha vida nestes últimos 20 anos, mantenho meu compromisso com a verdade, com o interesse público e com uma melhor sorte para a querida Amazônia, onde nasci. Não gostaria que meus filhos e netos (e todos os filhos e netos do Brasil) se deparassem com espetáculos tão degradantes, como ver milhares de toras de madeira de lei, incluindo o mogno, ameaçado de ser extinto nas florestas nativas amazônicas, nas quais era abundante, sendo arrastadas em jangadas pelos rios por piratas fundiários, como o extinto Cecílio do Rego Almeida.
Depois de ter sofrido todo tipo de violência, inclusive a agressão física, sei o que me espera. Mas não desistirei de fazer aquilo que me compete: jornalismo. Algo que os poderes, sobretudo o judiciário do Pará, querem ver extinto, se não puder ser domesticado conforme os interesses dos donos da voz pública.
Vamos tentar examinar o processo e recorrer, sabendo das nossas dificuldades para funcionar na justiça superior de Brasília, onde, como regra, minhas causas sempre foram vencedoras até aqui, mesmo sem representação legal junto aos tribunais do Distrito Federal.
Decidi escrever esta nota não para pressionar alguém nem para extrapolar dos meus direitos. Decisão judicial cumpre-se ou dela se recorre. Se tantos erros formais foram realmente cometidos no preparo do agravo, o que me surpreendeu e chocou, paciência: vou pagar por um erro que impedirá o julgador de apreciar todo meu extenso e profundo direito, demonstrado à exaustão nas centenas de páginas dos autos do processo. Terei que ir atrás da solidariedade dos meus leitores e dos que me apoiam para enfrentar mais um momento difícil na minha carreira de jornalista, com quase meio século de duração. Espero contar com a atenção das pessoas que ainda não desistiram de se empenhar por um país decente. [Belém (PA), 11 de fevereiro de 2012]

Portugueses usam hit musical para protestar nas ruas.

Só mesmo uma versão como esta para que eu postasse aqui essa música.
Apesar da paródia ser até engraçada, a situação é muito séria. Trabalhadores em várias parte do mundo se levantam contra um modelo econômico que massacra famílias jogando milhares no desemprego e no desespero.
Com o intuito de reunir o maior número de pessoas possível, os manifestantes postaram uma paródia do hit musical "Ai se eu te pego". A força da internet mais uma vez se fez presente junto com a popularidade da música.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Gramáticos X Linguístas - Mais uma Análise de Sirio Possenti

Os estereótipos são que os gramáticos defendem o português correto, formal, e que os linguistas defendem todas as variantes. Minha impressão pessoal é que o predicado “defensor” até pode ser aplicado ao gramático, mas é incorretamente aplicado ao linguista.
As principais diferenças entre os dois grupos, ou entre os dois grupos de teorias (sem esgotá-las), considerados diversos critérios, são:
Quanto ao corpus: os gramáticos se baseiam em corpora escritos; dizem que seu corpus é literário, mas essa é mais uma jogada do que um fundamento; os “exemplos” poderiam vir dos jornais ou das revistas semanais. Haveria “erros”? Mais ou menos tantos quantos se encontram na literatura, convertidos em exceções. Os linguistas privilegiam os dados orais, o que não quer dizer que sempre gravaram falas; muitos seguiram seu ouvido ou sua avaliação pessoal; a querela da gramaticalidade é o melhor exemplo. Lidam mais com fonemas do que com letras; levam em conta construções que não se encontram tipicamente em textos escritos. Ou seja: linguistas e gramáticos divergem sobre o que é – ou o que pertence a – uma língua. Apelando para uma analogia, é como se alguns biólogos incluíssem e outros excluíssem os animais “nojentos”.
Quanto a teorias e métodos: para os gramáticos, a autoridade dos escritores é um critério para aceitar construções (e até exceções); para os linguistas, o critério para aceitar construções são os dados: se um fato ocorre sistematicamente, pertence à língua e deve ser descrito pela gramática. Pronúncias como “paiaço” e “muié”; concordâncias como “tu vai” e “os menino”, regências como “assistir o jogo” e “obedecer as regras” etc. são exemplos de pontos de discordância.
Quanto à explicitude e coerência das análises: gramáticas mais exemplificam do que analisam; são menos coerentes. Por exemplo, uma definição de sujeito pode não se aplicar a muitas construções sem que isso seja visto como um problema. As gramáticas não se preocupam em indicar o sujeito de uma interrogativa ou de uma imperativa depois de defini-lo como “o termo sobre o qual se declara” alguma coisa; ou em dizer que “a casa” é sujeito em “A casa tem três quartos” depois de definir sujeito como o que pratica ou sofre uma ação.
Quanto às controvérsias: gramáticos, eventualmente, discordam entre si, mas raramente se lê em uma gramática a crítica explícita de outra. Entre os linguistas, ao contrário, há verdadeiras polêmicas, ora devidas à preferência por uma ou outra teoria (formalistas e funcionalistas, por exemplo), ora devidas à preferência por uma ou por outra análise do mesmo fato (por exemplo, sobre a chamada “passiva sintética”).
Quanto aos erros: gramáticos consideram erros as variantes não “formais” ou não “padrões”; linguistas, não. Um bom exemplo é o caso da colocação dos pronomes. Ainda há gramáticas que consideram erradas construções como “me dá um dinheiro”. Haveria uma regra segundo a qual não se pode começar oração com pronome oblíquo. Algumas, como a de Cunha e Cintra, “aceitam” a colocação de pronomes à brasileira, mas em capítulo à parte, como se pedissem desculpas ao leitor (apesar disso, todos os exames que incluem questões gramaticais seguem as regras portuguesas; a culpa, claro, não é dos gramáticos). Linguistas consideram erros apenas construções que não são comuns em nenhuma comunidade de falantes. Numa frase como “tomei dois caipirrinhas”, um linguista detectará dois erros: um de concordância (duas) e a presença de um “r” que não deveria ocorrer (isto é, que um falante nativo do português não pronunciaria nessa palavra). E explica o fato como interferência de uma língua em outra: falantes que aprendem uma segunda língua cometem frequentemente erros desse tipo – muitos estudantes brasileiros de inglês dizem [tchitcher] em vez de [thitcher], porque seu dialeto transforma o “t” diante de “i” em “tch”, e transferem essa regra para o inglês etc.
Livro de Marcos Bagno - indicação de leitura sobre o tema.
Ainda quanto aos erros: gramáticos consideram erros sociais como se fossem estruturais. Por exemplo: a variação de “l” com “r” em palavras como “flamengo /framengo” (tal “troca” nunca ocorre em começo de sílaba!!!) é parte de um processo histórico que derivou, entre outros casos, em “praia” ou “prata” (compare com “plaga” e com o espanhol “plata”). Tais pronúncias são explicáveis e previsíveis estruturalmente (e um linguista não tem dor de ouvido ao ouvi-las). Elas são socialmente estigmatizadas (em geral, caracterizam a fala popular ou rural). É um erro comparável a um de etiqueta ou de moda. Dizer que é um erro (em língua) equivale a dizer que uma saia curta é um erro no campo da moda (ou em moralidade!). É uma avaliação social, não linguística; às vezes, alguém diz que o som “fra” é horrível, mas ninguém o acha horrível em “fraco” ou em “fraque”. No entanto, trata-se do mesmo som, e no mesmo contexto...
Algumas comparações: a diferença entre linguistas e gramáticos é análoga à diferença entre antropólogos e missionários (um quer conhecer, outro quer converter) ou entre botânicos e paisagistas (um estuda as plantas, outro seleciona as “elegantes” – um bom caso de ideologias em confronto). Uma terceira comparação: no campo da moda, há os estudiosos das roupas (na história) e os que emitem juízos – em programas de TV – sobre o que é elegante ou cafona. Observe-se que há programas de TV e colunas de jornal deste último tipo também sobre língua...
Uma nota final: muito frequentemente, os defensores das gramáticas não as conhecem; só conhecem os manuais de redação e as listas de erros e fazem de conta que os dois tipos de obra são iguais. Os manuais de redação obedecem a políticas de escrita; de fato, a políticas de edição. Não substituem gramáticas, cuja função é explicar uma língua – e, eventualmente, ajudar a situá-la no espaço ideológico da nacionalidade, como um trunfo espacial.
Ia esquecendo: os gramáticos são mais conhecidos (pelo menos, é o que se pensa); linguistas ainda provocam perguntas do tipo “o que você faz?” ou “quantas línguas você fala?”, um pouco como os que estudam gens ou neutrinos.