segunda-feira, 23 de julho de 2012

Frei Betto Discute a Greve nas IFES com um amigo (conversa esclarecedora, por sinal).


Aqui o link do site: http://www.brasildefato.com.br/node/10150
Frei Betto, em 20/07/2012

Eis que esbarro no aeroporto com um amigo, alto funcionário do governo federal. Fomos colegas de Planalto nos idos de 2004. Fui direto ao ponto:
- E quando o governo acabará com a greve dos professores das universidades públicas, que já dura mais de 60 dias? Ela paralisa 57 das 59 universidades federais e 34 dos 38 institutos federais de educação tecnológica. São 143 mil profissionais de ensino de braços cruzados.
- O governo? – reagiu surpreso. - Eles é que decidiram parar de trabalhar. Já é hora de descruzarem os braços e aceitar nossa proposta apresentada na sexta, 13 de julho. A partir do ano que vem um professor titular com dedicação exclusiva poderá ter aumento de 45,1%.
- Sexta-feira 13 não é um bom dia para negociar... Sei que o PT tem tido sorte com o 13. Mas, pelo que me disseram professores, a proposta do governo está aquém do que eles querem. E só favorece os professores que atingiram o topo da carreira, e não os iniciantes. Como é possível um professor adjunto, com doutorado, ganhar R$ 4.300, e um policial rodoviário com nível superior R$ 5.782,11?
- O que pedem é acima do razoável. E se a greve prosseguir, nem por isso o país para.
- Você parece esquecer que o PT só chegou à Presidência da República porque o movimento grevista do ABC, liderado por Lula, encarou a ditadura, desmascarou as fraudes dos índices econômicos emitidos pelo ministério de Delfim Netto e exigiu reposição salarial.
O amigo me interrompeu:
- Aquilo foi diferente. Máquinas paradas atrasam o país.
- Este o erro do governo, meu caro. Não avaliar que escola fechada atrasa muito mais. Quem criará as máquinas ou, se quiser, trará ao país inovação tecnológica se os universitários não têm aulas? Quem estanca a fuga de cérebros do Brasil, com tantos cientistas, como Marcelo Gleiser, preferindo as condições de trabalho no exterior? A maior burrice do governo é não investir na inteligência. Já comparou o orçamento do Ministério da Cultura com os demais? É quase uma esmola. Como está difícil convencer o Planalto de que o Brasil só terá futuro se investir ao menos 10% do PIB na educação.
Meu amigo tentou justificar:
- Mas o governo tem que controlar seus gastos. Se ceder aos professores, o rombo nas contas públicas será ainda maior.
- Como pode um professor universitário ganhar o mesmo que um encanador da Câmara Municipal de São Paulo? Um encanador, lotado no Departamento de Zeladoria daquela casa legislativa, ganha R$ 11 mil. Um professor universitário com dedicação exclusiva ganha R$ 11,8 mil. Agora o governo promete que, em três anos, ele terá salário de R$ 17,1 mil.
- O governo vai mudar o plano de carreira. Professores passarão a ganhar mais em menos tempo de trabalho.
- Ora, não me venha com falácias. Quando se trata do fundamental –saúde, educação, saneamento– o governo nunca tem recursos suficientes. Mas sobram fortunas para o Brasil sediar eventos esportivos internacionais protegidos por leis especiais e comprar jatos de combate para um país que já deveria estar desmilitarizado.
- Você não acha que é uma honra o Brasil sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo? Não é importante atualizar os equipamentos de nossa defesa bélica?
- Esses eventos esportivos estarão abertos ao nosso povo, ou apenas aos turistas e cambistas? E quanto à defesa bélica, há tempos o Brasil deveria ter adotado a postura de neutralidade da Suíça e abolir suas Forças Armadas, como fez a Costa Rica em 1949. Quem nos ameaça senão nós mesmos ao não promover a reforma agrária para reduzir a desigualdade social e manter a saúde e a educação sucateadas?
Meu amigo, ao se despedir, admitiu em voz baixa:
- O problema, companheiro, é que, por estar no governo, não posso criticá-lo. Mas você tem boa dose de razão.
Frei Betto é escritor, autor de "A obra do Artista – uma visão holística do Universo” (José Olympio), entre outros livros. www.freibetto.org - Twitter:@freibetto.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Rosane - A Caçadora de Marajás.

Ao levar ao ar em rede nacional a entrevista com a ex-primeira dama Rosane Collor de Melo, a rede Globo mais uma vez saiu na frente no quesito da irresponsabilidade e da manutenção de preconceitos na sociedade. Em uma entrevista que mais parecia uma paródia da novela Cheia de Charme da própria emissora, Rosane Collor com um ar de "patroete" reclama sua pensão em frente das câmeras na noite de domingo para todo o Brasil. Com uma chamada que prometia revelações polêmicas sobre o governo do presidente Fernando Collor ainda nos anos 90, a emissora de TV conseguiu chamar a atenção de muitos telespectadores que foram "fisgados" por suas chamadas sensacionalistas. 
DESPREZO E CINISMO
A GLOBO com uma postura irresponsável deu voz em rede nacional a uma mulher que estava ali apenas pra reclamar uma pensão do ex-marido, discriminar aparentemente o que seriam as religiões afro no Brasil, falar do impeachment de seu ex (grande notícia) e anunciar de maneira oportunista, o lançamento de um livro que conta a sua vida com o ex-marido presidente Fernando Colllor - pelo qual diz estar sendo ameaçada. A ex-primeira dama com a maior "cara-de-pau" demonstrou junto com a emissora de TV que despreza totalmente a realidade do país em que vive. Com um cinismo deslavado ousa falar de religião e de uma entrega de sua vida à Deus e ao mesmo tempo está ali pra exigir dinheiro de seu ex-marido. Baixaria de dar inveja ao programa do Ratinho.
ESTRATÉGIA DE AUDIENCIA
Esta não é a primeira vez que a Globo traz para frente da telinha alguém famoso, "enfeita o pavão", anuncia uma entrevista que é dita como polêmica e bombástica quando na verdade não passa de uma jogada da emissora para garantir picos de audiencia na noite de domingo. Quem não lembra recentemente do fiasco de assistir a Xuxa anunciando que tinha sido abusada sexualmente? Sensacionalismo em nome da audiencia a qualquer custo, disfarçado de notícia e informação. 

Link do TERRA:

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O Neo Peleguismo na Universidade Pública.


 O termo pelego sempre foi aplicado aos individuos que são ou foram cooptados pelo poder instituído (empresarial, governamental,etc) e se submeteram a ordens sem qualquer questionamento, ora por pura ignorãncia, o que é menos grave, ora por conveniencia, o que é desastroso para qualquer grupo de trabalhadores na hora em que precise lutar juntos, num momento de greve, por exemplo. A peleguice sempre esteve presente no meio dos trabalhadores. Na história recente do Brasil, durante a ditadura militar, o pelego era o líder sindical que havia sido cooptado pelo governo. Também desde a era Vargas já se usava o termo pra designar entre outras palavras aquele indivíduo que desconhece o que é solidadriedade ou qualquer outro sentimento que venha representar a noção de coletividade ou luta por um bem maior para todos. Para muitos, o pelego é um individualista, um egocentrico e para muitos, ele não passa de um covarde.
 Com o avanço das políticas neo-liberais mundo afora, o pelego ganhou fôlego para atuar. A esfera do serviço público tem se moldado como um perfeito habitat para essa criatura de Deus, que não é porque é de Deus que seja santo.
 Como se sabe, as práticas neo liberais semeam o individualismo no meio social, levando os grupos a competirem cada vez mais em nome da produtividade, disfarçada do discurso do sucesso individual como a chave para o status social e a felicidade futura. Isso leva as relações micro-sociais, aquelas do dia-a-dia no trabalho, a serem pautadas pela competição constante entre os pares. Sentimentos como a inveja, a falsidade, a traição, a insegurança e o medo ganham força em um ambiente que se torna totalmente injusto e desumano. Tudo o que nós temos de pior, tende a ser fomentado no espaço de trabalho, lugar onde diariamente tenta se maquear uma aura de companheirismo e amizade, que na verdade nunca existiu e não é interessante que haja espaço para tal. Um exemplo prático dessa falsidade é a famosa plaquinha com os aniversariantes do mês que costumam pregar nas salas em que os colegas se reúnem, como se isso criasse um ambiente fraternal, o que na realidade não se sustenta no cotidiano
                       
Em suma, não se trata mais do pelego tradicional, há um peleguismo generalizado que aqui classifico como o NEO PELEGUISMO. Se "dá bem", quem conseguir alcançar as metas e sobreviver dentro de prazos impostos de forma autoritária e limitadíssimos, principalmente pra quem se propõe a fazer ciência em uma universidade, pressões, assédios por parte de diretores/coordenadores de faculdades e dos campi; tudo que pode fazer com que qualquer ser humano em sã consciência venha a adoecer. O neo peleguismo se configura como o espaço propicio para a proliferação de cada vez mais pelegos. Há trabalhos de pesquisa que já apontam cada vez mais profissionais adoecendo pelo stress gerado no trabalho, geralmente o pelego não sofre no trabalho, ele geralmente se comporta como alguém que não passa por isso, pois isso é desculpa de preguiçoso e fraco. Ele é um Winner, lembram?! E todos são Losers
Abaixo, uma lista com algumas características do neo peleguismo instaurado no ambiente da unversidade pública. Diga se de passagem que isso não se dá de forma desapercebida; há interesse de que a situação não se altere tão cedo e como diria o personagem de Wagner Moura no filme Tropa de Elite: "Pede pra sair!!!

PERFIL DO PELEGO NA UNIVERSIDADE PÚBLICA.

1.     Assalariado que pensa que é burguês, aliás muitas vezes não sabe a diferença de burguês e assalariado, e por isso, vive num mundo de fantasias e seria um ótimo funcionário em uma empresa privada.

2.     Individualista,  visão limitada de mundo, mente "engessada" pela lógica do mercado, do capital e do sucesso urgente.

3.     Dedica sua vida a "rechear" seu currículo lattes preocupado 24 horas com a atualização de sua carreira.

4.     Este indivíduo enxerga todos como oponentes que estão ali pra competir com ele (ele tem que ser Winner p que todos sejam Losers).

5.     Gosta de viver num mundo "clean", do politicamente correto, tem uma ojeriza ao mundo real. Se puder só se afasta do computador pra entregar o trabalho impresso e lamenta ainda não poder fazer isso por e-mail ou vídeo conferência.

6.     Por causa do seu perfil individualista, este tende a pensar que o mundo gira em sua volta e não raro se orgulha incansavelmente de seu currículo perante os demais e é claro, não perde a oportunidade de dizer o quanto seus pares estão a desejar no quesito.

7.     Desdenha e desconsidera qualquer pessoa, a não ser aquelas que venham lhe trazer algum beneficio particular, pessoal ou profissional, como pessoas em cargos de "chefia", as quais podem lhe trazer algum tipo de ascensão profissional - deste quesito o pelego faz o seu exercício.

8.     Idolatra o sucesso individual, entende isso como a chave para a felicidade e não consegue ver como poderia ser diferente. Assimilou perfeitamente o mote de que "o mundo é dos espertos".

9.     Aceita facilmente o discurso de que só não consegue o sucesso quem não quer, leia-se aqui sucesso como dinheiro e status. Qualquer ideia contraria a isso é desculpa de preguiçoso.

10.  O pior dos pelegos pode ter qualidades de um sociopata, aliás a sociopatia já é indicada por especialistas da saúde mental como um mal que acomete muito mais gente do que imaginamos - mas PELEGO e SOCIOPATA não são a mesma pessoa, apesar de terem coisas em comum.
     
Links da pesquisa e das charges / http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n2/a03v31n2.pdf

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Em Belém, a Greve é pra Valer!

Na manhã de quinta-feira, professores em greve da Ufpa no campus da capital fecharam os portões como forma de pressionar o governo federal que ainda não sinalizou com nenhuma proposta de negociação a partir da pauta nacional de reivindicações dos servidores federais em greve.
  A manifestação funcionou também para pressionar a paralisação das aulas do curso de graduação do Plano Nacional de Formação de professores, o Parfor, que deveriam ter sido suspensas a partir de uma decisão em assembléia docente do dia 27/06. No entanto, a coordenação do PARFOR em Belém, ignorou a decisão e autorizou o inicio das aulas em meio a greve, desrespeitando a decisão coletiva dos trabalhadores.

No video postado aqui, a TV Liberal, como sempre, criminaliza o protesto dos trabalhadores com o velho discurso dos prejuízos, como se eles já não acontecessem diariamente com o gradativo sucateamento e privatização da universidade pública. 
A greve nacional das universidades públicas tem mais de 90% de adesão das instituições e ainda estão em greve também os técnicos federais e o movimento estudantil em várias capitais que deflagaram greve com sua própria pauta e também apoio aos professores.