segunda-feira, 9 de julho de 2012

O Neo Peleguismo na Universidade Pública.


 O termo pelego sempre foi aplicado aos individuos que são ou foram cooptados pelo poder instituído (empresarial, governamental,etc) e se submeteram a ordens sem qualquer questionamento, ora por pura ignorãncia, o que é menos grave, ora por conveniencia, o que é desastroso para qualquer grupo de trabalhadores na hora em que precise lutar juntos, num momento de greve, por exemplo. A peleguice sempre esteve presente no meio dos trabalhadores. Na história recente do Brasil, durante a ditadura militar, o pelego era o líder sindical que havia sido cooptado pelo governo. Também desde a era Vargas já se usava o termo pra designar entre outras palavras aquele indivíduo que desconhece o que é solidadriedade ou qualquer outro sentimento que venha representar a noção de coletividade ou luta por um bem maior para todos. Para muitos, o pelego é um individualista, um egocentrico e para muitos, ele não passa de um covarde.
 Com o avanço das políticas neo-liberais mundo afora, o pelego ganhou fôlego para atuar. A esfera do serviço público tem se moldado como um perfeito habitat para essa criatura de Deus, que não é porque é de Deus que seja santo.
 Como se sabe, as práticas neo liberais semeam o individualismo no meio social, levando os grupos a competirem cada vez mais em nome da produtividade, disfarçada do discurso do sucesso individual como a chave para o status social e a felicidade futura. Isso leva as relações micro-sociais, aquelas do dia-a-dia no trabalho, a serem pautadas pela competição constante entre os pares. Sentimentos como a inveja, a falsidade, a traição, a insegurança e o medo ganham força em um ambiente que se torna totalmente injusto e desumano. Tudo o que nós temos de pior, tende a ser fomentado no espaço de trabalho, lugar onde diariamente tenta se maquear uma aura de companheirismo e amizade, que na verdade nunca existiu e não é interessante que haja espaço para tal. Um exemplo prático dessa falsidade é a famosa plaquinha com os aniversariantes do mês que costumam pregar nas salas em que os colegas se reúnem, como se isso criasse um ambiente fraternal, o que na realidade não se sustenta no cotidiano
                       
Em suma, não se trata mais do pelego tradicional, há um peleguismo generalizado que aqui classifico como o NEO PELEGUISMO. Se "dá bem", quem conseguir alcançar as metas e sobreviver dentro de prazos impostos de forma autoritária e limitadíssimos, principalmente pra quem se propõe a fazer ciência em uma universidade, pressões, assédios por parte de diretores/coordenadores de faculdades e dos campi; tudo que pode fazer com que qualquer ser humano em sã consciência venha a adoecer. O neo peleguismo se configura como o espaço propicio para a proliferação de cada vez mais pelegos. Há trabalhos de pesquisa que já apontam cada vez mais profissionais adoecendo pelo stress gerado no trabalho, geralmente o pelego não sofre no trabalho, ele geralmente se comporta como alguém que não passa por isso, pois isso é desculpa de preguiçoso e fraco. Ele é um Winner, lembram?! E todos são Losers
Abaixo, uma lista com algumas características do neo peleguismo instaurado no ambiente da unversidade pública. Diga se de passagem que isso não se dá de forma desapercebida; há interesse de que a situação não se altere tão cedo e como diria o personagem de Wagner Moura no filme Tropa de Elite: "Pede pra sair!!!

PERFIL DO PELEGO NA UNIVERSIDADE PÚBLICA.

1.     Assalariado que pensa que é burguês, aliás muitas vezes não sabe a diferença de burguês e assalariado, e por isso, vive num mundo de fantasias e seria um ótimo funcionário em uma empresa privada.

2.     Individualista,  visão limitada de mundo, mente "engessada" pela lógica do mercado, do capital e do sucesso urgente.

3.     Dedica sua vida a "rechear" seu currículo lattes preocupado 24 horas com a atualização de sua carreira.

4.     Este indivíduo enxerga todos como oponentes que estão ali pra competir com ele (ele tem que ser Winner p que todos sejam Losers).

5.     Gosta de viver num mundo "clean", do politicamente correto, tem uma ojeriza ao mundo real. Se puder só se afasta do computador pra entregar o trabalho impresso e lamenta ainda não poder fazer isso por e-mail ou vídeo conferência.

6.     Por causa do seu perfil individualista, este tende a pensar que o mundo gira em sua volta e não raro se orgulha incansavelmente de seu currículo perante os demais e é claro, não perde a oportunidade de dizer o quanto seus pares estão a desejar no quesito.

7.     Desdenha e desconsidera qualquer pessoa, a não ser aquelas que venham lhe trazer algum beneficio particular, pessoal ou profissional, como pessoas em cargos de "chefia", as quais podem lhe trazer algum tipo de ascensão profissional - deste quesito o pelego faz o seu exercício.

8.     Idolatra o sucesso individual, entende isso como a chave para a felicidade e não consegue ver como poderia ser diferente. Assimilou perfeitamente o mote de que "o mundo é dos espertos".

9.     Aceita facilmente o discurso de que só não consegue o sucesso quem não quer, leia-se aqui sucesso como dinheiro e status. Qualquer ideia contraria a isso é desculpa de preguiçoso.

10.  O pior dos pelegos pode ter qualidades de um sociopata, aliás a sociopatia já é indicada por especialistas da saúde mental como um mal que acomete muito mais gente do que imaginamos - mas PELEGO e SOCIOPATA não são a mesma pessoa, apesar de terem coisas em comum.
     
Links da pesquisa e das charges / http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n2/a03v31n2.pdf

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