sábado, 29 de junho de 2013

HÁ POLÍTICOS E NÃO APOLÍTICOS!

O MPL (Movimento Passe Livre), movimento que já existe há aproximadamente dez anos, protagonizou um dos maiores levantes populares da historia recente do Brasil nas ruas das cidades, o que desencadeou toda uma onda de protestos que se estenderam ao longo do mês de junho e sem data pra terminar. 

Um dos grandes méritos foi o efeito "curto-circuito" que partiu da pauta de protestos contra o aumento de tarifas no transporte público e se desenrolu para outras pautas tão urgentes quanto a da tarifa de onibus urbano. Eis que surge dentro das manifestações um grito de protesto que exige o isolamento e a não participação de partidos políticos nessa luta. Ora, os próprios membros do MPL que deram origem a toda a manifestação nacional tem, em sua grande maioria, militantes de partidos políticos (maioria de esquerda, diga-se de passagem). 

É claro que o próprio MPL se pautou desde o início em uma agenda plural e de frente única, sem precisar de um partido A ou B pra liderar a mobilização, mas daí, negar a participação de organizações políticas legítimas democraticamente é por si só, uma contradição e que o próprio MPL é contra. A pergunta é: COMO POSSO EXIGIR JUSTIÇA E DEMOCRACIA AGINDO DE FORMA SECTÁRIA? Ao chamar, os militantes de partidos de oportunistas, os manifestantes podem estar caindo em contradição e se colocando de forma tão reacionária e truculenta quanto a da policia nas ruas. Negar a participação de determinados grupos políticos é negar a construção democrática que tanto se almeja. 

É óbvio também que toda essa indignação e decepção geral com os partidos políticos é mais do que fundamentada, ou seja tem razão de ser, mas eliminar a participação partidária do processo é inaceitável, pois é através desse instrumento de organização política que os grupos podem literalmente levantar suas bandeiras de luta trazendo à tona também a realidade que é o fato de vivermos em uma sociedade de classes antagônicas - burgueses e proletários. Sim, é isso mesmo, essa leitura tem que ser feita pelos manifestantes. Do contrário a luta fica diluída no espectro neoliberal de "cada um no seu quadrado" e a luta individualista, a competição e a mesquinharia burguesa acabam por "contaminar" todo o movimento. Nas palavras de Marilena Chauí:

                               "Parte dos manifestantes está adotando a posição ideológica típica da classe  média, que aspira por governos sem mediações institucionais e, portanto, ditatoriais. Eis porque surge a afirmação de muitos manifestantes, enrolados na bandeira nacional, de que “meu partido é meu país”, ignorando, talvez, que essa foi uma das afirmações fundamentais do nazismo contra os partidos políticos."


Que a mascara de Guy Fawkes não funcione como símbolo de uma "neutralidade" política que muitos manifestantes defendem ao se dizerem apartidários ou sem partido, uma ideologia que flerta com uma atitude política altamente questionável pelos próprios manifestantes que muitas vezes não tem uma leitura clara de seu próprio posicionamento político. Lembremos aqui também que é característico dos regimes totalitários a ausência de organização política e popular. Agarrar-se a bandeira brasileira como forma de um nacionalismo ingênuo, pode nos levar a caminhos já trilhados na historia recente (como citado por Chauí) e que tenho certeza (espero), não é o que esses mesmos manifestantes buscam, ou pelo menos não deveriam. 

É por causa de décadas de manipulação ideológica, midiática e televisiva (Rede Globo, por exemplo) que vejo como preocupante a possibilidade do movimento deixar aflorar a conformidade com a democracia burguesa que já é essa pseudo-democracia que aí está instaurada, mas que parece ainda ter fôlego para cativar os manifestantes com a idéia de que ela (a democracia capitalista e burguesa) só precisa de algumas reformas pra ficar "mais humana" e justa; como se isso fosse possível.

Finalmente, devemos lembrar que o verdadeiro VANDALISMO QUEM FAZ É O CAPITALISMO e jamais esquecer que vivemos em uma sociedade dividida em classes com interesses antagônicos regidos pelo poder do capital global transnacional, este representado pelas elites no poder - políticos, latifundiários e o grande empresariado (inclui-se aqui as redes corporativas de televisão pertencentes a um pequeno grupo de famílias brasileiras) que tem o poder de manipular a opinião pública como sempre fez e continuará a mostrar as sua garras "mafiosas" toda vez que sentir se ameaçado ou incomodado com qualquer manifestação que distoe "democraticamente" de seus interesses particulares.

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