sexta-feira, 8 de abril de 2011

Eu "domino" a língua, já sou professor?!


É preciso “destronar” a imagem do falante nativo ou falante fluente celebrado como modelo ideal de professor de língua. Apesar das pesquisas e estudos nos últimos anos na área de ensino-aprendizagem, a idéia de que ter um professor nativo é a melhor maneira de se aprender uma lingua permanece como importante fator na cultura de aprender línguas no Brasil. É obvio que todo falante nativo (aliás, um conceito já ultrapassado de acordo com alguns pesquisadores) é um conhecedor de sua lingua materna e usuário fluente. Porém, este fato, não pode ser considerado como único critério para qualificar alguém como um profissional da área de ensino de línguas. Nosso descaso com educação sempre abriu espaço, devido também a um déficit educacional histórico, para que pessoas sem qualificação assumissem o papel do professor nos espaços públicos e privados. Vejamos o que diz o professor da Unicamp, Kanavillil Rajagopalan:
O nativo que emergiu do modelo chomskiano foi um ser cartesianamente onipotente. Em matéria de ensino de língua estrangeira, tal concepção do nativo, marcada por um grau de veneração desmedida, só deu ampla vazão à ideologia neocolonialista que sempre pautou o empreendimento. O que se viu foi uma verdadeira “apoteose do nativo” (Rajagopalan, 1997).
As conseqüências dessa postura perante a aprendizagem é que criamos assim uma idéia cada vez mais forte de que a cultura sustentada pela língua estrangeira é de certa forma superior ou melhor do que a dos discentes. A aprendizagem não deveria ser vista como um saber acabado e sim como palco de constantes investigações e questionamentos que se alteram de acordo com o contexto e condições a serem estudadas. O saber estrutural das línguas é apenas uma das faces do aprendizado. Questões de âmbito sócio-cultural podem e devem ser estudadas por alunos e professores. A auto-estima, os aspectos que norteiam a identidade do aprendiz e a maneira como os estudantes se vêem no processo são fatores determinantes para uma aprendizagem mais efetiva e esclarecedora.

Chega de manter os estudantes cativos em um modelo enciclopédico de fórmulas e métodos de ensino que aprisionam e alienam em muitos casos os alunos. Devemos ainda desconfiar de professores que transformam seu trabalho em um verdadeiro comércio com vendas de livros que prometem o “céu” em algumas páginas. Temos que buscar uma maneira de estudar que nos direcione para um questionamento claro de nossas dificuldades e nos auxilie na busca de soluções. Não é difícil de entender porque estas propostas comerciais fazem tanto sucesso. Elas são super convenientes, pois muitos pseudo-professores falam o que as pessoas querem ouvir. A aprendizagem é atributo do aprendiz, mas para esses professores é importante manter uma legião de fãs que vão sempre precisar recorrer e consultar as suas “obras” num eterno ciclo de dependência, conveniente para os alunos e muitas vezes lucrativo para esses vendedores disfarçados de gurus do ensino de línguas.
A qualificação profissional deve ser vista como pré-requisito para qualquer pessoa que queira atuar na área de educação. O professor leigo, nativo ou não, deve buscar sua qualificação como um pré-requisito para atuar em uma área de suma importância que é a educação. E não é porque há professores graduados sem uma boa fluência que podemos justificar a aceitação e a atuação de fluentes sem qualificação. Nascer, viver ou passear no exterior não é suficiente para alguém assumir uma posição de educador na área de línguas.

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