sexta-feira, 22 de junho de 2012

Pistoleiros de Farda atacam Trabalhadores Rurais.

Divulgo aqui texto enviado pelo Prof. Bruno Malheiro (Ufpa - Marabá).

Nesta quinta feira, 21 de Junho de 2012 em frente a fazenda Cedro de propriedade do banqueiro Daniel Dantas, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) manifestavam contra a grilagem de terras públicas, contra o desmatamento e o uso de venenos na agricultura e pela efetivação da Política de Reforma Agrária. A marcha, com tom pacífico e integrando o conjunto de manifestações no contexto da Rio + 20, tinha a presença de crianças, mulheres gestantes gozando do direito de exigir seus direitos. Quando o corredor humano se aproximou da fazenda, vários homens da escolta armada que policia a fazenda atiraram na direção dos manifestantes que, desarmados, respondiam com fogos de artifício. A truculência foi tamanha que uma mulher que acompanhava a marcha e estava do outro lado da BR-155, com sua filha no colo, sentada em uma guarita, onde param ônibus e vans, viu sua criança sendo atingida na cabeça de raspão por uma bala. Os tiros continuaram e vários outros agricultores foram feridos. Se não fosse vários manifestantes se esconderem atrás do muro da porta de entrada da fazenda, talvez um massacre tivesse ocorrido. A polícia, quando chegou, encontrou armas pesadas dos seguranças da fazenda.

Este fato nos coloca algumas questões: 
1 - Como a questão está sendo tratada na grande mídia? Falam de conflito, como se tivesse ocorrido confronto. Alguém já se perguntou se algum segurança está ferido? Não esqueçamos de novembro de 2009, em uma outra marcha na mesma BR-155 e por pouco a polícia não promove um massacre justificado pela grande mídia pela circulação de imagens de destruição de fazendas e pela criminalização dos movimentos sociais ligados a questão agrária. Não esqueçamos também, como fez a grande mídia, de Zé Claudio e Maria, que acabava de se formar em pedagogia pela UFPA, brutalmente assassinados em Nova Ipixuna em maio de 2011. A micropolítica nunca exibiu tantos corpos rejeitados do direito de existir e os discursos midiáticos nunca quiseram tanto que estes corpos não existissem...

2 - Qual a efetividade da política de Reforma Agrária deste governo? Há mais de dois anos as ocupações aumentam, as manifestações engrossam, mais terras foram consideradas griladas e improdutivas, mas qual a resposta do INCRA? Nenhuma fazenda desapropriada, eu diria!!! Um governo alinhado aos interesses do agronegócio e da mineração que tem na reprimarização da produção a estratégia de revigorar nossa condição de colônia, talvez agora para a China, não pode ter outra resposta! E o pior é a tintura de popular que alguns teimam em pintar esse governo... O consenso e a popularidade justifica abusos, autoritarismos (como Belo Monte), corrupção e uma política que aprofunda as contradições sociais.

3 - Alguém já parou para pensar na proliferação das escoltas armadas, particularmente na região do sudeste do Pará? Algo que seria para ser usado para, principalmente, garantir a segurança no transporte de cargas e valores, é uma brecha na legislação que está sendo usada para a legitimação da pistolagem! Eu mesmo já fui monitorado por elas em dois trabalhos de campo, principalmente em Serra Pelada. Parece que Agamben estava certo quando disse que essas medidas chamadas de extraordinárias são “inicialmente apresentadas como medidas ligadas a acontecimentos excepcionais, reservadas a situações limitadas no tempo e no espaço, [e depois] tornam-se regra”. Não podemos aceitar isso com naturalidade, algo pensado para excepcionalidades não pode se tornar normal!
4 - É claro e evidente para todos que o capitalismo nesta região congrega uma multiplicidades de relações contraditórias entre si, que o sudeste do Pará é um front entre vários projetos de territorialização, que a renda da terra, o capital comercial, industrial e financeiro estão aqui ligados de forma umbilical, assim como várias formas de exploração do trabalho. Aqui, de modo geral, a expulsão de camponeses da terra, o saque dos recursos naturais, dos meios de produção e de existência dos sujeitos do campo, a expropriação privada de bens públicos e dos saberes comunitários tradicionais é um processo permanente. O ontem, o hoje e o amanhã do capital dão as mãos para conseguirem taxas de lucro mais elevadas. É nesse contexto que emergem, então, a luta pela permanência ou reconquista do território por camponeses, indígenas, atingidos por barragem, por mineração... Nesse cenário de luta por direitos e por uma nova forma de viver, no que aqueles que lutam se transformam para a sociedade em geral? Em criminosos, ou então, em sujeitos descartáveis para a biopolítica geral!   
5 - Diante de tudo isso a sociedade em geral continua consumindo os discursos midiáticos, tomamos posições cômodas, fugindo da realidade que nos cerca... não podemos nos transformar em cúmplices de novos massacres!!!
Bruno Malheiro.

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